De há uns meses para cá está no mercado, ao lado da senhora que normalmente me vende as frutas e legumes, um senhor muito simpático, com uma banca pequenina e improvisada, cheia de legumes caseiros e ervas frescas. Tenho lá parado todas as semanas e trazido para casa pequenas delícias, para além de uma pequena lição sobre esta ou aquela erva. Das mãos dele já trouxe menta, cebolinhas, beterrabas, favas, malaguetas e o alho francês mais tenro que já comi. Volto lá sempre – e ele deixa-me cheirar as ervas, aperta-as entre os dedos e conta-me como as planta. Perguntei-lhe pelo manjericão e ele disse-me que cá não se dá muito bem e por isso não tem. Mas tem tomilho e tomilho-limão, tem salva e três tipos de hortelã, tem erva doce e orégãos. E tem doçura na voz e no olhar.
Há duas semanas vim de lá com um quilo de favas, destas frescas e novas que se apanham agora. Não eram muitas, percebi eu depois de as descascar. Para a próxima serão mais. É que eu acho que as favas nascem na altura errada. Eu não como muitas, mas adoro creme de favas. Gosto mesmo, mesmo muito e acho que é a única coisa com favas que me apetece recorrentemente. Mas com o calor deste fim-de-semana que passou não apetecia nada sopa. E as favas a ameaçar murchar. Também não me apetecia nada congelá-las. O que fazer?
Ontem a tarde esteve mais fresca. Apeteceu-me um jantar daqueles que conforta o estômago – que bom, já posso usar as favas! E como são poucas, melhor ainda, não fico com um panelão de sopa no frigorífico, não vá o calor arrepender-se e decidir voltar!
As medidas são aproximadas. Como sempre que faço sopa, aliás. Acho que aquilo que vai para dentro da panela também não é muito importante, desde que não ofusque o sabor das favas, as estrelas do creme!
Numa panela com um fio de azeite, alourei duas cebolas médias grosseiramente picadas e quatro dentes de alho. Juntei-lhes duas batatas médias e dois pés de alho francês, com o máximo da parte verde possível (mas tirando a que já é demasiado dura, para que o creme não fique cheio de fios). Um quilo de favas (que depois de descascadas seriam aí uns 300g, medidos a olho), sal e um copo grande de água. Coze em fogo baixo por muito, muito tempo. Se tiver água suficiente posso até esquecer-me da panela no fogão.
Quando estava tudo muito bem cozido, juntei mais água e triturei muito bem com a varinha mágica. Passei então por uma rede e triturei novamente. Gosto de creme bem cremoso (passe o pleonasmo) e como não tinha tirado a camisa às favas não quis arriscar. Acertei o sal e pronto! Servi com cubinhos de bacon salteados numa frigideira sem nada, que acabaram por fritar na própria gordura até estarem crocantes.
O Zé olhou, olhou, provou e gostou. Não sem antes fazer mil perguntas sobre os quês e porquês! Eu fiquei feliz porque ainda sobrou creme para uma refeição! Já disse que adoro creme de favas?
deu pra sentir o tamanho do prazer pelo creme de favas…sim!!!! ficou lindo o post assim como a fotografia! bjs
que belo texto !!!
Só uma perguntinha… És de Coimbra?
Olá!
Também adoro creme de favas…. a minha mãe, para garantir que temos creme de favas todo o ano, arranja-as (tira-lhes a casca e a camisa) e congela em doses suficientes para uma panela de sopa…. 🙂
Experimenta e vais ver que sabe mesmo bem uma sopinha dessas nos dias frios de Inverno!
Bjs
Sofia
Que saudades!
Espetáculo ! Belíssimo post com texto e fotos de primeira. Eu ia te pedir permissão pra linkar o Caos lá no DCPV ( cheguei aqui através das fotos das blogueiras lá no Chucrute) mas vi, inclusive, que eu já estou no teu blog roll. Portanto, estou somente retribuindo ( e com o maior prazer) a tua gentileza !
E parabéns por todo o Caos na Cozinha.
“…É que eu acho que as favas nascem na altura errada…”
Menina, eu não entendi a expressão. Vc poderia explicar o sentido?
Favas?
Oi Mariana! Adorei o texto, lindo… pude sentir o aroma das ervas pulando pelo ar. O prato tb é instigante! Gostei da receita. Aproveito pra comentar o quanto deve ter sido agradável o encontro das blogueiras aí em Portugal! Que alegria!!! Muito bom compartilhar essas coisas, mesmo à distância.
Beijocas da Foca
[…] dia em que fiz o creme de favas, acompanhei-o com uma quesadilla. Não sei se poderei chamar-lhe isso, porque sinceramente não sei […]
[…] o segredo que me ensinou o senhor que me vendeu as malaguetas (que é o mesmo que me vendeu as favas): para as conservar melhor e mais tempo, o ideal não é secá-las. É guardá-las no congelador, […]
Também fiz e ficou uma delícia. Obrigado pela receita!
O meu site DIY: http://www.legendaryurbanhacker.com