Já não chove, como nas fotografias. Parece que a Primavera chegou e sente-se que veio com vontade. Por cá, já havia saudades do sol na pele, do cheiro que o mundo tem quando está calor. Mas pão faz-se sempre, chova ou faça sol. E come-se ainda mais sempre, só ou acompanhado – uma fatia barrada com manteiga, outra roubada de passagem e comida assim, somente. Pão mesmo que chova e que troveje.
Não é novidade para quem lê o Caos que eu gosto muito de fazer pão. É um prazer, é uma terapia. E é uma delícia, sempre. Mas é também uma forma de marcar posição e de bater o pé. De mostrar, a mim e a quem me quer ler, que pão é farinha, água, sal e fermento. E outras coisas, se quisermos, mas que não são precisas. Num país como o nosso, com tanto e tão bom pão, com tanta tradição e tantas receitas maravilhosas, é chocante e deixa-me francamente furiosa que muito do pão que se vende seja, na verdade, tão pouco pão. Que tenha tantos químicos, conservantes, melhorantes, espessantes. Experimentem visitar a padaria de qualquer super ou hipermercado e ler os rótulos. Mesmo o pão quente, acabado de sair, daquele que é feito quase a todas as horas, tem aditivos. E não vamos entrar, sequer, pelo reino dos pães de forma, de hamburger e de cachorro que duram semanas na despensa – isso não é pão.
.
Este pão é uma variação sobre a receita já muito falada, aqui no blog e em toda a internet, do no-knead bread, do Jim Lahey. Foi feita com um queijo que descobri quando estivemos em Amsterdam e que nos serviam ao pequeno-almoço. É um gouda com cominhos, as sementes inteiras a salpicar o queijo, e liga maravilhosamente com carnes fumadas. Eu, que não gosto de queijo, consegui convencer o meu marido (que ainda gosta menos do que eu) a regressar com um pedaço na mala.Recentemente redescobri-o no Continente e no supermercado do El Corte Ingles e de vez em quando compro.
Achei que a massa deste pão, que é tão porosa, ia combinar lindamente com cubos do queijo com cominhos e com pedaços de nozes. Adaptei a receita de pão com queijo do livro, juntei-lhe nozes e torci os dedos, à espera.
.
No-knead bread com nozes e gouda com cominhos
(adaptado a partir de My Bread)
- 400g farinha para pão
- 200g queijo com cominhos, em cubos pequenos
- 50g nozes em pedaços
- 1 colher chá sal
- 3/4 colher chá de fermento biológico
- 300g água fria
Numa tigela média, misture a farinha, o queijo, as nozes, o sal e o fermento. Adicione a água e misture bem, usando uma colher de pau, até obter uma massa húmida e pegajosa. Cubra a tigela e deixe levedar 12-18h (quanto mais tempo deixar, mais arejada será a massa).
Quando a primeira fase tiver terminado, enfarinhe uma superfície e transfira para lá a massa, sem rasgar. Com os dedos enfarinhados, molde muito levemente uma bola, dobrando as pontas para baixo. Polvilhe com muito pouca farinha, cubra com um pano e deixe repousar 2h (até dobrar de tamanho).
1h30 depois, pré-aqueça o forno a 220ºC e coloque lá dentro uma panela de ferro ou de barro, com tampa.
No fim das 2h, transfira cuidadosamente o pão para dentro da panela. Faça-lhe dois golpes no topo, para que possa expandir-se. Cubra a panela com a tampa, reduza a temperatura do forno para 200ºC e deixe cozinhar 30 minutos.
Ao fim de meia hora, retire a tampa da panela e deixe cozinhar mais 15-30 minutos, até que o pão esteja dourado (o tempo vai depender da sua preferência por pão mais ou menos tostado).
Retire do forno com muito cuidado e deixe arrefecer sobre uma grade por, pelo menos, 1h. Se o cortar antes, o miolo do pão estará húmido e pegajoso, porque o pão acaba de cozer fora do forno, enquanto arrefece.
Quando arrefecer, é só cortar e comer. Se sobrar, guarde-o bem fechado, numa caixa ou num saco, para que não seque.
.
Este pão é significativamente mais forte do que a sua versão simples. O queijo derrete e penetra na massa, espalhando o sabor dos cominhos por todo o pão. Os pedaços à superfície torram ligeiramente e reforçam o sabor das nozes, que são boas e pequenas surpresas no meio das fatias.
Fazer pão é juntar coisas simples, sem segredo, e ver magia acontecer. Sem precisar dos pós modernos, que mantêm fresco o que já devia ter secado ou apodrecido há muito. É guardar o pão bem fechado, comê-lo enquanto fresco e fazer torradas quando seca. É aproveitar cada bocadinho e usar as sobras como pão ralado ou croutons. E não esperar que dure para sempre.
Nham, quero!!!
Ai que saudades do pão bom da minha cidade, aquele que no dia seguinte já começa a ficar duro e que não dura uma semana, como o dos supermercados…
Manda aí uma fatia, sff!
PS – Foste a Amsterdam ou a Amsterdão? É que senão qualquer dia ainda dizes que foste ali ao Oporto… 😛
Não senhora. Não foi a Nova Iorque, fui a New York. E não fui a Francoforte, fui a Frankfurt. Normalmente digo o nome como se diz no sítio, não traduzo.
E também foste a London? E a Zürich? 😛
Os nomes das cidades devem usam-se no original apenas quando a versão portuguesa não é usual. Como no caso de Francoforte ou Lípsia (Leizig). Se não qualquer dia já ninguém se entende… e olha que já nos basta o desacordo.
*Leipzig
Sim senhora, a Zurich. E porque é que estás a armar confusão, se percebeste perfeitamente onde é que eu tinha ido? Mania, pá 😛
Pronuncias “Zurixe”? É que nunca ouvi ninguém a dizer a palavra assim…
É pá, chama-me picuinhas mas há que ter algum cuidado com a nossa língua. Nova Iorque é Nova Iorque, dizer “New York” numa frase em português, tal como “Amsterdam” em vez de “Amsterdão” a mim, soa-me a gente pretenciosa, gente que se gosta de dar a ares. E isso eu sei que tu não és…
Não sou, não. Mas traduzir nomes de cidade para mim é como traduzir nomes. A rainha não é Isabel, é Elizabeth. O príncipe não é Guilherme, é William. Ou Charles e não Carlos. Para mim é a mesma coisa, são coisas que não se devem traduzir.
Mas se pensarmos assim, passamos a viajar até “Ellada” ou “Mahskvah”? Não me parece natural… além de que ninguém perceberá do que estamos nós a falar.
Nomes próprios traduziam-se antigamente, afinal tenho lá em casa muitos Júlios Verne. Mas caiu em desuso. Agora, quando há nomes de cidades traduzidos que são as definições oficiais e não caíram (ainda) em desuso, não há porque usar as versões originais…
Até podem ser picuinhices (o que, na verdade, nem são, porque Amsterdam num texto português é considerado erro) mas gosto de cada coisa no seu lugar.
Bom, mas voltando ao pão… onde é que está a minha fatia?
Já não há. Mas podes sempre fazer… É fácil, fácil 🙂
É uma grande tentação é… não tenho é panela. Bah.
Para a próxima que fizeres pão, vê lá se partilhas aqui com a je. 😀
Que aspecto delicioso!
tenho de procurar esse queijo no Continente. Como se chama?
Bjs
Não se chama. É gouda (este é o tipo de queijo) com cominhos. Costuma estar nos queijos estrangeiros, na zona dos holandeses.
Querida Mariana…também eu já escrevei sobre pão e sobre quanto gosto de o fazer. Não me consigo decidir se gosto mais de fazer ou de comer. Por isso, continuo…..:) O teu pão ficou com tão bom aspecto que me deixou a babar….Maravilha! Combinação inusitada mas que se adivinha divina! Um beijinho 🙂
mariana mas que bonito que ficou:-)
beijinhod
Hmmm, adoro nozes e no pão deve ficar uma delícia. Lamento desapontar-te, mas a chuva volta amanhã e vem p ficar alguns dias…
Olá,
também sou uma fan desta receita desde que a vi no Minimalista, nem sei quantas vezes e em quantas versões já a fiz. Mas melhor do que este pão sem amassar, se é que é possível, é pão feito com sourdough, farinha água e sal, mais nada.
Eu partilho contigo a mesma posição. Pão caseiro, pão genuíno, pão que sabe a pão, casa que cheira a pão. 🙂
Eu alinho mais pelo concorrente artisan bread, mas vai dar ao mesmo, pega-se na fórmula e vai-se acrescentando isto ou aquilo. já experimentei com queijo, com nozes e com cominhos, mas nunca juntei tudo na mesma fornada.
Agora tentaste-me com este pão lindo!
É claro que não dura para sempre, senão não tínhamos pretexto para fazer mais. 🙂
Ontem descobri um documentário fascinante sobre o pão, partilhei-o no facebook, se quiseres depois espreita lá.
Beijinhos 🙂
concordo plenamente consigo no que diz respeito a todo o tipo de aditivos e mais alguns que se colocam na comida.. também dou comigo a fazer todo o tipo de coisas que seria muito mais simples e barato de comprar.. mas que nunca será a mesma coisa.. quanto a esse pão parece-me fantástico =)
Olá! gostei muitíssimo de seu blog e acho que a descrição que você faz de “cozinheira amadora” não cabe, pois você, desde os primeiros posts já cozinhava muito bem! 🙂
Estou em uma fase de “pesquisa e aprendizado” para incrementar meu blog feito há pouco tempo:
http://www.simplease.wordpress.com e o seu irá me ajudar bastante!
Abraços e tudo de bom!
🙂
Gosto de pão, de queijo, de chuva… a côdea tem um aspecto mesmo crocante 🙂
Tambem adoro pao e este ficou com um aspecto delicioso 🙂 adorei a ideia do queijo e os cominhos, devem dar-lhe um toque bem especial. Beijinhos
Esse pão deixou-me a pensar, se tu não gostas de queijo e gostaste do pão, eu que não sou apreciadora de cominhos também devo gostar 🙂
De aspecto está fabuloso. Tal como a minha amiga Gasparzinha, eu também sou mais artisan bread, tenho que experimentar esse no-knead para ver se há alguma diferença.
ADOREI ESSE PÃO FICOU LINDO. O SABOR IMAGINO….DELICIOSO
BOM DOMINGO
BJS
Sempre que posso venho ver o seu blog, acho que é a primeira vez que estou a comentar.
Eu adoro pão e quando vi este não resisti a escrever que adorei o aspecto desse pão, eu gosto de queijo, cominhos acho que vou adorar.
Eu acho este pão o maximo, e ja fiz com tudo qto é tipo de farinha.
Mas gostei e vou adotar esta sua sugestão que eu penso que caiu como uma luva: boa idéia!
E sem entrar na discussão, mas entrando, tb acho o fim do mundo as pessoas ficarem mudando o nome original de lugares para as sua linguas mães mm qdo eles são escritos no mesmo tipo de alfabeto…
Na Italia é assim tb, e dizemos “principe Carlo”, por exemplo, se não o povo não entende: pode?… rss rss
Bjs!
Aqui na Alemanha os cominhos no pão são muito comuns na Baviera e as pessoas do sul quando chegam a Berlim ficam muito aborrecidas com o pão que “parece que se esqueceram de o temperar”. Não que por isso passem a compreender a minha dor por se esquecerem regularmente de temperar a manteiga…
PS: O teu pão está lindo…recomendaram-me o blogue hoje e acho que vou lê-lo de fio a pavio.
Rita, o marido tem padeiros na família, pão e manteiga e é um homem feliz. Mas manteiga da boa, com sal como se quer. Compreendo bem a tua dor, acho que a teria também.