Desde que comecei a preocupar-me com a origem dos produtos que consumimos, os nossos hábitos alimentares mudaram. Não foram mudanças radicais, foram pequenos ajustes que nos levaram a viver como a natureza quer, a favor da sazonalidade e não da perene disponibilidade que conseguimos por vivermos numa aldeia global. Hoje temos tudo todo o ano – espargos que vêm do Peru, mangas e papaias do Brasil, romãs de Israel e um sem fim de grandes disparates que fazem com que cada peça de fruta ou legume valha um mês de viagens de carro no petróleo que gastou para chegar até nós. Não somos fundamentalistas – de vez em quando também compramos uma papaia ou um ananás, que nos chegam de longe, porque gostamos deles e não são tanto uma questão de não estarem na época cá, mas mais de não os termos (o ananás da Madeira é maravilhoso se for imensamente doce, coisa rara cá no continente; o outro corta-nos a língua).
Hoje, sempre que vou às compras, pergunto de onde são as coisas que quero comprar e se são de estufa. Se forem estrangeiros ou de estufa, procuro alternativas. Por causa disto passámos a comer alimentos mais saborosos e mais saudáveis, mais baratos e melhores para o ambiente e que estimulam a economia nacional. Mas isso significa que não comemos tomates no inverno ou pêssegos na primavera, uns porque não há, outros porque são de estufa, ambos porque não têm sabor. Quem prova um tomate coração de boi, apanhado há horas e comido quase a rebentar de maduro não pode ficar feliz com aquelas bolas de plástico sem sabor que se vendem durante o resto do ano.
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Sopa de tomate assado
(2 pessoas)
- 3 tomates coração de boi, médios e maduros
- 5 dentes de alho
- 1 molho pequeno de coentros
- ½ colher chá de molho picante (eu usei sriracha)
- ½ pepino em cubos pequenos, para servir
- azeite
- sal
- água
Pré-aqueça o forno a 180ºC.
Corte os tomates em fatias grossas e disponha-as num tabuleiro de forno. Descasque os alhos e coloque-os entre as fatias. Tempere levemente com sal grosso e regue com um fio de azeite. Leve a assar durante 20-25 minutos, até que o tomate esteja assado e com umas pontas levemente tostadas.
Retire o tomate, alho e todos os sumos do tabuleiro para o copo de um liquidificador (ou varinha mágica). Triture bem. Ajuste o sal, acrescente os coentros, o molho picante e água quente suficiente para fazer um creme não muito grosso. Triture novamente.
Sirva com cubos de pepino.
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Esta sopa tem um leve sabor fumado, das pontinhas de tomate queimadas. O molho picante é fundamental para compor os sabores. Pessoalmente, preferi a sopa sem o pepino, que pode também ser substituído por croutons feitos em azeite e alho.
Por cá andamos na época da despedida. Dos tomates, dos figos, dos pêssegos. Das coisas boas que a terra só nos volta a dar para o ano. Porque a sazonalidade não é só boa para a terra, é também boa para nós. Já viram que as laranjas, cheias de vitamina C, têm a sua época no Inverno? Importa lembrar, sempre, que nós também somos natureza e que os nossos ritmos são os ritmos da Terra, se não deixarmos que a civilização os perverta.
Sim, também vou ter saudades dos pêssegos e dos tomates coração de boi.
Por cá também se tenta comer de acordo com o que as estações nos oferecem, mas de vez em quando lá sucumbimos à globalidade…
excelente proposta. Rica sopa
Tens td a razão, cá em casa tem-se tentado fazer o mesmo 🙂 E já ando p fazer sopa de tomate assado há algum tempo, mas ainda ñ calhou… A ver se acontece em breve! Bjinhos.
Totalmente de acordo. Ainda há poucos dias publicámos no nosso blog mapas de sazonalidade dos alimentos (http://wp.me/p2Epaf-1N), porque seguimos exactamente a mesma filosofia que tu. E os tomates são um alimento maravilhoso!
Oi Mariana, parece delicioso.Beijos querida e tudo de bom.
Estou cada vez mais sazonal também.
A sopa parece-me muito bem mas, tal como tu, talvez lhe cortasse também os pepinos.
Esta está feita, mas teve de ficar de um dia para o outro à espera dos coentros, de que me esqueci. Logo à noite já te conto 🙂
Boa! Conta-me tudo! Também pode ser sem coentros, mas eu acho que dão um toque especial.
Era maravilhosa, estou apaixonada, um senhor que está aqui diz que é uma forte candidata à sopa do ano. Agora é só descobrir um tabuleiro grande o suficiente para não gastar meia hora de gás em duas tacinhas de sopa…
Eu faço pelo menos 4 taças 🙂