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Archive for the ‘Carne’ Category

Há receitas que teimam em ficar mal nas fotografias e que acabam por nos vencer pelo cansaço. Há dias em que nada parece estar no ponto exacto – a luz é má e eléctrica, o enquadramento uma desgraça e nem o prato ajuda. Junte-se a isso a fome que espera pelo fim da sessão  e a falta de paciência de quem não faz disto vida e o resultado só pode ser fraco.

E depois fico ali, naquele limbo entre as más fotografias e as excelentes receitas. As menos boas esquecem-se, não fazem falta. Mas as boas, aquelas que nos agarraram pelo nariz e pelo estômago, merecem ser partilhadas. Mesmo que as fotografias, em sessões sucessivas, não lhes façam justiça.

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Beringelas à grega

(adaptado de How to roast a lamb, Michael Psilakis)

para 4 pessoas

  • 4 beringelas pequenas, cortadas ao meio
  • 250g carne de vaca picada
  • 1 cebola pequena, finamente picada
  • 2 folhas de louro
  • 2 colheres sopa de pasta de tomate
  • 80ml vinho tinto
  • 800ml água
  • 1 colher chá de tomilho seco
  • 2 colheres chá de canela
  • azeite
  • sal
  • queijo mozzarella ralado
  • um punhado de ervas frescas (hortelã, salsa e cebolinho)

Pré-aqueça o forno a 200ºC. Faça cortes diagonais na polpa das beringelas, em cruz. Pincele-as com azeite e tempere com sal e um bocadinho de canela. Embrulhe cada meia beringela em papel de alumínio e leve a assar até que estejam tenras, 30-40 minutos. Retire do forno e, com uma colher, tire a polpa da beringela, tendo cuidado para não furar a pele. Pique a polpa retirada e reserve.

Num tacho grande, em fogo médio-alto, frite ligeiramente a cebola, em azeite (2-3 minutos). Acrescente a carne e deixe corar, mexendo frequentemente. Adicione a polpa das beringelas, o louro, 1 colheres de chá de canela e a pasta de tomate. Mexa continuamente durante 1 a 2 minutos. Junte o vinho tinto ao tacho e mexa bem. Deixe evaporar todo o álcool. Acrescente então a água, o tomilho, 1 colher de chá de sal e deixe ferver. Reduza então o fogo, cubra parcialmente o tacho e deixe cozinhar até que o molho esteja quase seco, 60-65 minutos. Verifique e mexa com frequência.

Pré-aqueça o forno a 175ºC. Ponha as beringelas num recipiente e recheie-as com o molho de carne. Cubra com o queijo ralado e leve ao forno durante 15 minutos, até que a cobertura esteja dourada. Retire, regue com um fio de azeite (ou com a gordura que tenha ficado no fundo da travessa) e polvilhe com as ervas frescas picadas.

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Cá em casa este prato foi uma aposta arriscada. Sou a única fã de canela da nossa mesa e, para não abusar, reduzi um bocadinho as quantidades da receita original. Para nós ficou óptima assim – tanto que se eu não lhe dissesse que tinha canela, ele não adivinhava, apesar de ela estar, inquestionavelmente, ali e de ser muito responsável pelo sabor final deste prato.

É uma receita leve, se servida com uma salada. Ou mais substancial, se acompanhada de arroz. De uma forma ou de outra, é uma boa ideia para as beringelas que já andam por aí e que vão continuar a aparecer até Outubro.

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Todas as semanas passo no talho, converso com o Jorge, compro-lhe ovos caseiros maravilhosos, pergunto-lhe pela neta que é o brilho dos olhos dele. Às vezes – poucas – apetece-me e compro um bife alto, bem fresco e bom. Um bife chega para os dois – normalmente são tão grandes! Às vezes compro dois e congelo um. Prefiro carne fresca, mas dá sempre jeito ter alguma no congelador.

Trago-o para casa e percorro as receitas. Às vezes é só grelhado, com umas pedras de sal grosso, uma boa salada e pão ou umas batatas “fritas” no forno. Outras vezes é outra coisa, uma das receitas que acumulo em pilhas virtuais gigantescas e de que, bem sei, nunca verei o fundo.

Aquilo que escolhemos comer espelha muitas vezes o que nos vai cá por dentro. Uma sopa quente quando precisamos de conforto. A estereotipada tablete de chocolate quando nos sentimos deprimidos. Ou sabores novos, de outros mundos, quando andamos com a cabeça nas férias que hão-de vir.

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Noodles com carne de vaca e gengibre

(ligeiramente adaptado daqui)

4 pessoas

marinada:

  • 2 colheres sopa de vinagre de arroz
  • 5 colheres sopa de molho de soja
  • 1 colher sopa de mel
  • 1 colher sopa de gengibre fresco, ralado
  • 1 colher chá de piri-piri
  • 1 colher chá de cominhos
carne e legumes:
  • 1 ou 2 bifes altos (1,5cm), com 400g
  • 1 colher sopa de amido de milho
  • 2 colheres sopa de óleo vegetal
  • 1 colher sopa de óleo de sésamo
  • 4 cebolinhas, cortadas em pedaços grandes
  • 2 dentes de alho finamente fatiados
  • 2 punhados de ervilhas de quebrar
  • 1 cenoura média cortada em tiras finas
  • 2,5cm de gengibre fresco descascado e cortado em tiras finas
  • 1 malagueta pequena
  • 200g de noodles (os que preferir – eu usei udon)
Leve o bife ao congelador durante 30 minutos, para que seja mais fácil fatiá-lo em fatias finas. Corte-o na diagonal, em tiras de 1cm de espessura.
Num recipiente, misture os ingredientes da marinada. Coloque a carne no recipiente, mexa bem para que todas as tiras fiquem cobertas e leve ao frigorífico por, pelo menos, 30 minutos (ou até 4 horas).

Numa tigela, misture o amido de milho com 2 colheres de sopa de água fria.

Cozinhe os noodles de acordo com as instruções da embalagem. Quando estiverem no ponto, escorra-os, passe-os por água fria (para que não continuem a cozer) e reserve.

Aqueça os óleos num wok, em fogo alto. Seque ligeiramente as tiras de carne e frite-as no óleo, em várias vezes para que não se sobreponham e não acabem a estufar. O bife deve ficar mal passado. Transfira-o para um prato e reserve.

Ponha a malagueta e o alho no wok e cozinhe-o por 30 segundos. Acrescente o gengibre, a cenoura e as ervilhas tortas e cozinhe por 3-4 minutos (os vegetais devem manter-se crocantes). Devolva as tiras de carne ao wok e acrescente a mistura de amido de milho. Adicione os noodles e as cebolinhas cortadas. Misture bem, para envolver os noodles no molho e cozinhe por 1 minuto.

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Desde que aprendemos a manuseá-los devidamente, comemos sempre com pauzinhos. Pode ser artifício ou mania da nossa cabeça, mas o sabor não é o mesmo, quando optamos pelos talheres. O ritual é tão parte da refeição como o prato em sim e este, comido com a taça numa mão e os hashi na outra, transporta-nos para outro continente. Curiosamente, aquele para onde nos levarão as próximas férias e para onde vamos em busca de novas delícias e de um outro mundo.


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Nós gostamos muito de noodles. Mas daqueles com muito sabor, porque daquelas coisas estilo sopa com legumes e noodles a boiar já não gostamos tanto. Sabem quase sempre a canja, mesmo que esse sabor esteja disfarçado por outros, mais asiáticos. Parecem sempre feitos em caldo de frango. E como nenhum dos dois gosta de canja, a coisa não passa despercebida.

Mas dos outros, daqueles com gengibre e molho de soja e nem uma pitada de canja, gostamos muito. E eu vou coleccionando receitas, sempre que elas aparecem. Receitas que raramente faço, porque sempre que as fiz em casa não cheguei nem perto dos noodles de que nós gostamos. Parecia faltar sempre qualquer coisa em termos de sabor. Nunca consegui descobrir o quê e as receitas foram-se acumulando, pontas de esperança de que, um dia, haveria noodles decentes a sair da minha cozinha.

Há uns dias, entre umas horas de estudo e outras de sono, quando não havia nada descongelado nem grande vontade de sair de casa, resolvi experimentar outra vez. Fui buscar uma receita ao monte, uma para a qual eu tinha quase todos os ingredientes em casa, e fui para a cozinha.

Noodles & vaca

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Noodles com carne de vaca e ervilhas de quebrar
(adaptado daqui)

Ingredientes (2 pessoas)

  • 300g  carne de vaca cortada em tiras (eu descongelei dois bifes grossos e cortei-os)
  • 300g noodles
  • 300g ervilhas de quebrar
  • 3 colheres sopa molho de soja
  • 3 colheres sopa sake (não tinha, usei vinho branco)
  • 2 colheres sopa molho de chilli doce
  • 1 colher sopa açúcar
  • 1 colher sopa amido de milho
  • 1 colher sopa óleo de sésamo
  • 2 colheres sopa óleo vegetal
  • 3 dentes de alho finamente picados
  • 220ml caldo de legumes
  • cebolinho (ou rebentos de cebola)

Comece por cortar o bife em tiras largas. Numa vasilha, misture 1 colher sopa de cada de molho de soja, vinho branco e molho de chilli doce. Junte o açúcar e bata com um batedor de varas até dissolver. Adicione então o amido de milho e bata mais um pouco, até ter uma mistura homogénea. Por fim o óleo de sésamo e o bife, que deverá ficar a marinar durante 20 minutos. No fim destes, escorra e descarte o resto da marinada.

Coza os noodles em água a ferver durante 1 minuto. Escorra e reserve.

Numa frigideira ou num wok aqueça 1 colher de sopa de óleo e frite o alho ligeiramente, até começar a sentir o seu cheiro. Junte o bife e resista à tentação de lhe mexer, inicialmente: se não lhe mexer ele vai caramelizar ligeiramente e ficar muito mais saboroso. Vire então e deixe caramelizar do outro lado. Transfira para um prato e reserve.

Ponha mais uma colher de sopa de óleo no wok e frite ligeiramente as ervilhas de quebrar, que previamente arranjou e partiu ao meio. Acrescente 100ml de caldo de legumes, reduza para lume brando e cozinhe um pouco – não muito, que as ervilhas de quebrar cozem depressa. Transfira-as para o prato da carne.

Adicione o caldo restante ao wok quente, juntamente com as 2 colheres de molho de soja e de vinho branco e deixe ferver em lume alto. Adicione os noodles e cozinhe até que o líquido tenha praticamente evaporado e a massa esteja coberta com um molho espesso. Devolva a carne e as ervilhas ao wok, envolva tudo e deixe cozinhar mais uns segundos, para que os sabores apurem. Sirva polvilhado com o cebolinho ou rebentos de cebola finamente picados.

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E desta vez ficaram bons. A carne estava muito macia, com aquele sabor ligeiramente doce da caramelização. Os noodles cozeram um bocadinho demais e estavam um pouco moles, mas cheios de sabor. E as ervilhas de quebrar, ainda ligeiramente crocantes, contrastaram na perfeição com os sabores mais ricos do resto do prato.

Parece que, afinal, saem noodles decentes da minha cozinha. Esperemos que não tenha sido uma vez sem exemplo.

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Os croquetes do Chef Silva

A pedido de várias famílias, cá venho, então, dar-vos a receita dos meus maravilhosos croquetes do Chef Silva.

Confesso que não tem nada que saber, à parte dar algum trabalho. Se forem feitos em quantidades industriais, como é o meu caso esta semana, dá MUITO trabalho. Mas mais vale fazer muitos do que poucos, que eles congelam muito bem e sempre só se suja as mãos uma vez (deu para perceber que eu gosto muito de panar coisas, não deu?…).

croquetes

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Croquetes do Chef Silva

Ingredientes

  • 200g de carne picada (ou restos de carne, frango, etc.)*
  • 60g de manteiga ou margarina
  • 1 dente de alho picado
  • 1 folha de louro
  • 1 cebola pequena picada fininha
  • 60g de farinha de trigo
  • 1,5dl de leite
  • 2 ovos
  • sal
  • pimenta (eu não uso)
  • noz moscada
  • pão ralado
  • óleo para fritar

Numa caçarola derreta a manteiga, junte o alho, a cebola e o louro e deixe alourar, mexendo sempre para não queimar. Quando a cebola estiver bem lourinha, junte a farinha e mexa até estar tudo bem ligado. Mexendo sempre, sobre lume brando, adicione, em fio, o leite bem quente. Continue a mexer até descolar do fundo.

Junte a carne picada, misture em e tempere com sal, pimenta e noz moscada. Continue a mexer cerca de 1 ou 2 minutos.

Fora do lume, misture 1 ovo batido, deixando-o cair em fio e mexendo bem. Leve novamente ao lume e mexa sempre até formar bola e descolar do fundo do tacho. Despeje sobre um tabuleiro, alise, cubra com papel vegetal e deixe arrefecer (a experiência diz-me que umas boas horas no frigorífico ajudam a enrolar; normalmente deixo durante a noite).

Molde os croquetes (como a massa é muito mole, normalmente faço bolinhas não muito grandes – aguentam melhor a fritura sem se desfazer), passe-os por ovo batido e pão ralado (neste ponto podem ser congelados). Frite em óleo bem quente – se não estiver bem quente os croquetes desfazem-se), seque-os em papel absorvente e sirva quentes.

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* Em minha casa os croquetes sempre se fizeram de sobras de carne. E normalmente de sobras de assado, que não sei porquê era sempre o que mais sobrava. Como o assado lá em casa era sempre de porco, os croquetes eram de porco. Ao picar as sobras misturava-se sempre um bocadinho de chouriço, para dar mais sabor.

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Quando comecei a planear os croquetes que ando a fazer fiquei sem saber como resolver o problema da carne crua – afinal, nunca os tinha feito dessa forma. Achei que a melhor forma de garantir que os croquetes eram os mesmos de sempre seria assar a carne do costume – lombo de porco – e picá-la depois, com um pouco de chouriço. Não posso garantir que a receita seja igualmente saborosa com carne crua, porque nunca a experimentei. Mas acredito que seja maravilhosa se feita com carne de vaca estufada, podendo até acrescentar-se cenoura e ervilhas e um pouco de linguiça, triturando tudo junto depois, sem o molho. Nunca experimentei, mas de certeza que ficam deliciosos.

E agora que já partilhei a minha ultra-secreta receita de croquetes, vou ver se a carne que ali está a assar já está pronta, que com a dose de ontem só consegui 90 croquetes e preciso de outros tantos. Alguém me dá uma mãozinha?

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Ser operada ao joelho, por mais simples que seja a coisa (e foi) e não traga complicações (que não trouxe), traz sempre – e ainda bem – algumas vantagens. Afinal, não são todos os fins-de-semana a dois que têm quatro dias! E estes foram quatro dias cheios de mimos, de séries e filmes que vimos enterrados no sofá e de comidas fáceis, fonte de conforto para estes dias cheios de chuva.

Normalmente cá em casa a cozinheira de serviço sou eu. Não só porque tenho um reportório mais alargado, mas também porque o faço com prazer (e porque sou mais rápida – se vos dissesse o tempo que o amor da minha vida leva a picar uma cebola…). À semana, nos dias em que ele chega a horas decentes, vamos os dois para a cozinha – eu preparo o jantar enquanto ele esvazia a máquina da louça lavada e a enche da suja, enquanto contamos ao outro o dia que passou.

Este fim-de-semana fomos os dois para a cozinha. Ele queria cozinhar e eu fui dar apoio e instruções. Cozinhámos chilli con carne, prato recorrente cá em casa, por ser fácil, rápido e delicioso. Fazer um prato a quatro mãos pode demorar mais tempo do que a duas, mas é, também, uma experiência muito mais divertida. Eu ofereci-me para picar todas as cebolas, cenouras e pimentos, porque sabia que, para o Zé, isso seria a parte mais demorada da equação. Ele fez tudo o resto, seguindo as instruções. Eu só aproveitei uma ou outra altura em que ele não estava a olhar para provar e acertar os temperos. Um prato destes não tem nada de complicado, mas convêm provar muitas vezes ao longo da preparação, para garantir o melhor sabor. E para isso, infelizmente, não há instruções. O treino de fazer educa a língua e o dedo nas pitadas disto ou daquilo. O primeiro chilli do meu marido estava delicioso e rendeu duas refeições neste fim-de-semana longo.

lasanha

Ontem fomos novamente os dois para a cozinha. O Zé andava com vontade de comer lasanha, mas como nunca comemos uma lasanha congelada de que gostássemos (tanto que já desistimos de experimentar) tinha de ser a minha lasanha. Aprendi a fazê-la há alguns anos, mas a receita foi, entretanto, evoluindo e tomando forma própria. Hoje é a minha lasanha, que não tem absolutamente nada que saber, mas que é aquela que nos sabe melhor.

O ragú leva muitos legumes, dos que houver à mão. Pode levar courgette, alho francês, com jeito e bem picadinhos talvez até bróculos. Este levou cenoura e pimentos vermelhos, 1:1 com a carne. Cebola e alho na panela, com azeite. Os legumes, a carne, o tomate. Sal e orégãos e deixa-se cozinhar em lume brando pelo máximo de tempo possível (quanto mais tempo, melhor saberá – desta vez, o nosso só teve direito a 30 minutos, o que é pouco) e no lume mais baixo possível. Manjericão fresco picado já no fim, depois de desligado o fogão.

O resto é ainda mais fácil. Um tabuleiro de forno, um pacote de massa seca (da que não requer pré-cozedura), um pacote de bechamel, mozzarella ralada em casa. Tenho o hábito de diluir o bechamel com leite – o de pacote costuma ser muito espesso e assim poupo nas calorias, porque nunca uso o pacote todo. Junto orégãos a esta mistura. No fundo do tabuleiro, duas colheres do bechamel diluído e por cima a primeira camada de massa. Carne, mais bechamel, queijo. E repete, até acabar a carne. A última camada (aprendi eu depois de várias asneiras) é melhor sendo de carne, bechamel e queijo, sem massa em cima. Assim tudo o que está por baixo coze mais homogeneamente, num forno a 180ºC. Está pronta quando um garfo espetado no meio atravessar com facilidade todas as camadas. Mas deixem a massa ligeiramente al dente, para que não seja uma papa sem graça.

Perguntou o Zé se a receita já estava no blog. Disse-lhe que não, que receita de lasanha toda a gente tem e que esta não tem nada de especial. Mas tem, disse ele. É boa, é simples, é tua. Tem de especial para nós porque é aquela de que nós gostamos. E portanto cá está, a minha lasanha sem nada de especial, mas que é minha, nossa. E que nos sabe tão bem.

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É um bocadinho frustrante que a macarronada mais saborosa que já fiz tenha sido, também, a mais feia. É verdade, à partida, que massa e molho não serão as coisas mais fáceis de fotografar. Um monte um pouco indistinto de pasta, molho e o que mais for não é o cenário mais fotogénico. Mas estava tão boa, tão boa que não pude deixar de partilhar.

Ontem por cá foi dia de tempestade. Choveu torrencialmente durante grande parte do dia, caiu granizo e o frio era mais que muito. Ir às compras estava, portanto, fora de questão. O que fazer para o jantar com o que havia em casa? Não ia ser fácil…

Descongelei 3 hamburgers daqueles de supermercado, que comprámos uma vez no desespero de fazer uma refeição rápida e de que gostámos tão pouco que ficaram abandonados no congelador. Ia fazer almôndegas, estava decidido. E molho de legumes assados. E pasta. Hmmm…

macarronada1

Macarronada com molho de legumes assados e almôndegas

Ingredientes

Molho:

  • 1 beringela média
  • ½ pimento vermelho
  • 1 lata de tomates inteiros
  • 8 dentes de alho
  • azeite
  • sal
  • alecrim
  • orégãos

Almôndegas:

  • 300g carne picada (eu usei os ditos hamburgers)
  • ½ medida de parmesão ralado na hora
  • 1 colher sopa de alho em pó
  • 1 pitada de chilli
  • 1 pitada de cominhos
  • 1 pitada de orégãos
  • 1 punhado de nozes picadas

Comecei por assar os legumes para o molho: pré-aqueci o forno a 200ºC e num tabuleiro dispus a beringela, com casca, cortada em cubos, o pimento cortado em pedaços do mesmo tamanho e os tomates da lata, bem escorridos, inteiros. Reguei com azeite, temperei com sal, orégãos e alecrim e levei a assar. Pus os dentes de alho num recipiente de vidro e reguei com água a ferver, para lhes tirar a casca. Em seguida, alourei-os ligeiramente em azeite, com todo o cuidado para não deixar queimar, e quando estavam dourados juntei à frigideira 30ml de água e uma colher de sopa de vinagre balsâmico. Deixei caramelizar e reservei. (se não quiserem ter este trabalho podem assar uma cabeça de alho inteira no forno, sem descascar e apenas com o topo cortado). Quando os legumes estavam prontos coloquei-os no copo da varinha mágica. Juntei-lhes o alho e o líquido da lata dos tomates. Bati bem e reservei.

Num recipiente desfiz os hamburgers. Juntei o queijo ralado, o alho em pó, as especiarias e as nozes bem picadas e misturei até ficar o mais homogéneo possível. Com as mãos, enrolei pequenas almôndegas (bite size). Na frigideira onde caramelizei o alho, fritei as almôndegas em duas colheres de sopa de azeite, até estarem praticamente cozinhadas e com zonas crocantes, da fritura. Acrescentei o molho (pode ser preciso acrescentar aqui um pouco de água, caso o molho seja demasiado espesso) e deixei cozinhar mais uns dois ou três minutos.

Entretanto tinha cozido bavette, que regressou à panela depois de bem escorrida. Sobre ela, despejei o molho e as almôndegas e envolvi tudo muito bem. Servi polvilhado de orégãos e de parmesão ralado (este só no meu prato).

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Era impossível tirar uma fotografia decente deste prato. O molho, a massa, as almôndegas, tudo era uma pilha mais ou menos indistinta e fumegante no prato. Resolvi tirar na mesma, só porque sim. E depois de provar não resisti à partilha: de três hamburgers horríveis saíram almôndegas deliciosas, cheias de sabor, com o crocante da frigideira e das nozes a contrastar com as texturas mais suaves da pasta e do molho. E o molho era também delicioso. Claro que teria ficado ainda melhor se feito com tomates frescos, mas não estamos na época deles e os que por aí andam não têm sabor nenhum. Não é o molho mais rápido, mas todo o trabalho que dá é compensado: o sabor intenso dos legumes assados, o alecrim e o doce do alho caramelizado fizeram deste um molho todo especial. Óptimo para uma macarronada daquelas boas, só massa e molho, sem necessidade de mais nada. Se bem que aqui as almôndegas abrilhantaram a festa! Não sobrou uma para contar história e o ar deliciado com que o Zé as comeu disse tudo!

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Pulled Pork – o regresso!

Eu disse que a receita rende muito, não disse? E isso numa casa onde só há dois significa quase sempre sobras. Substanciais, às vezes! O que não é problema nenhum. Normalmente almoço sozinha e essas sobras poupam-me trabalho e resolvem o problema em cinco minutos. Foi o que aconteceu com os restos do delicioso porco!

Pronto, não foram exactamente cinco minutos. Perdi um bocado mais a pensar com que comer este porco. Não me apetecia repetir a sanduíche, mas não estava a ver com que o combinar. Lembrei-me desta receita que tinha visto uns dias antes e decidi experimentar.

Cozi duas mãos cheias de pasta e deixei, propositadamente, passar um pouco do ponto al dente. Numa frigideira salteei, numa colher de sopa de óleo, uma cebola picadinha e, quando já estava dourada, adicionei a pasta bem escorrida. De vez em quando mexe-se, para virar a pasta e a pôr a bronzear do outro lado. É preciso resistir à tentação de mexer muito, para que a pasta ganhe aquele lado tostadinho e crocante. E já está!

Contra o meu instinto, segui a receita e usei óleo em vez de azeite. Não volto a repetir – tenho a certeza que em azeite ficará muito melhor. Mas este é um acompanhamento rápido e delicioso, que ligou perfeitamente com os pedaços de carne suculenta e com o molho que a acompanhava. Rápido e perfeito!

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Puxa o porco!

Há dias em que, havendo tempo e paciência, a preparação do jantar demora toda a tarde. É preciso planear, levedar, marinar, temperar, esperar. E eu gosto disso. Gosto de fazer o pão e esperar que cresça ou preparar a massa de pizza e o molho caseiro, esperar que ambos estejam no ponto certo de sabor e textura. Alimentar alguém que se ama é um acto de entrega. É um acto de amor.

Pronto, reconheço, foi uma introdução um bocadinho lamechas (apesar de verdadeira) para uma sanduíche. De porco! Mas foi um desses jantares que demorou toda a tarde. Porque fiz o pão (com esta receita), cozinhei a carne, desfiei-a, quente, à mão e esperei pacientemente pela hora do jantar para dizer prova, sei que vais gostar. E gostou!

Fiz 1/4 da receita original de pão. Rendeu 4 pães de tamanho perfeito. Dois polvilhei com sésamo, dois deixei nus. A massa não deu exactamente o ponto que deveria ter dado, mas reconheço que o erro deva ter sido meu – dividir a massa em quatro não deu contas propriamente certas e as aproximações foram algumas. De qualquer forma, o pão era macio e saboroso, apesar de encharcar um bocado com o molho.

Mas a estrela da noite era o pulled pork. A receita, como boa receita americana, é da querida Cinara e posso dizer que já se tornou um favorito. Vai ser repetida muitas vezes, porque é fácil, rápida e deliciosa. Perfeita para uma refeição rápida, para um piquenique ou só porque sim, porque é tão boa. Eu fiz algumas alterações, por falta de ingredientes. Mas resultou muito bem na mesma!

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Pulled Pork

Ingredientes

  • 700g de lombo de porco sem osso
  • 2 colheres sopa de azeite
  • 1 cebola picada
  • 2 dentes de alho picadinhos
  • 1 medida de ketchup (aproximadamente 220ml)
  • 2 colheres sopa de açúcar mascavado
  • 2 colheres sopa de molho inglês
  • 2 colheres sopa de vinagre de maçã
  • 1/2 colher sopa de mostarda
  • 1 colher chá de chili em pó
  • 1 colher chá de sal
  • 1/2 medida de água (aproximadamente 120ml)

Na panela de pressão, em lume alto, frite o lombo de porco (inteiro!) em azeite, até dourar. Acrescente a cebola e o alho e refogue. Numa vasilha, à parte, misture os restantes ingredientes. Regue o lombo com este molho e feche a panela. Quando começar a chiar, reduza o lume para o mínimo e deixe cozinhar durante 45 minutos. Desligue o fogão, deixe sair a pressão e só então abra a panela. Desfie o lombo de porco grosseiramente e envolva-o com o molho. Se este estiver muito líquido, pode levá-lo novamente ao fogão para engrossar.

Quando comecei a preparar o molho, reparei que não tinha ketchup suficiente. E sim, aqui tem mesmo de ser ketchup (bom ketchup, caseiro se quiserem), molho de tomate não funciona. Mas eu remediei a situação, com medo de estragar tudo, fazendo uma espécie de ketchup caseiro em dois segundos – completei o que me faltava da medida com polpa de tomate caseira e acrescentei à receita original mais uma colher de sopa de molho inglês e mais uma de vinagre. Acabou por funcionar bem, felizmente!

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Esta é uma daquelas receitas que eu aconselho vivamente – é deliciosa! E tão fácil! Além disso rende imenso e, de acordo com as indicações da Cinara, pode ser congelada. Eu servi dentro dos pãezinhos, acompanhado com batatas aos gomos, assadas no forno, com casca, temperadas com alecrim, manjericão e paprica, um fio de azeite e uma mão de sal grosso. Ficaram deliciosas com o molho da carne! Pulled pork sandwiches e potato wedges. Só nos faltaram os laços e os chapéus de cowboy! 😉

 

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Gosto muito de chilli. Mas acho que deve ser um gosto que me ficou nos genes, porque sinceramente não me lembro de o ter comido muitas vezes na minha vida. O meu pai adora – mas também não me lembro de o ter feito em casa alguma vez. Gosto estranho, este, que é gostar (quase) sem ter provado.

Mas a verdade é que há uns dias, ao abrir uma lata de tomate (para preparar um molho de pizza) e ver que me tinha enganado e que em vez de tomate era concentrado de tomate, só consegui pensar numa coisa: chilli. Aquela pasta de tomate espessa ia ficar maravilhosa num chilli! No dia seguinte, sem saber o que fazer para o jantar, acendeu-se novamente a luz e saí para o supermercado, às oito da noite, para comprar carne picada e feijão! E fiz e comemos nós e comeram os meus pais e gostamos todos. Muito.

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Chilli con carne

Ingredientes

  • 500g carne de vaca picada
  • 1 lata grande feijão vermelho (aproximadamente 500g)
  • 1/2 pimento vermelho
  • 1 cebola média
  • 4 dentes de alho
  • 1/2 medida concentrado de tomate
  • 1 medida água morna
  • 1 colher sopa coentros em semente
  • 1 colher sopa cominhos em semente
  • 2 colheres sopa chilli em pó (eu não tinha, usei 4 malaguetas pequeninas trituradas)
  • 1 colher sopa alho em pó
  • 1 colher sopa orégãos
  • sal
  • azeite

 

Comecei por tostar ligeiramente as sementes de coentro e cominhos, numa frigideira seca. Quando começaram a estalar, passei-as para o almofariz e triturei-as até ficarem em pó. Juntei o alho em pó, as malaguetas e os orégãos e misturei bem.

Numa panela grande alourei os dentes de alho picados, em azeite. Juntei a carne e deixei fritar brevemente, mexendo sempre para não colar e ao mesmo tempo para não formar aqueles aglomerados que a carne picada às vezes forma. Juntei o pimento vermelho e a cebola, cortados em cubinhos, e a pasta de tomate dissolvida na água morna (aqui as medidas são meramente indicativas: se quiser mais molho, acrescente mais pasta de tomate e mais água). Adicionei os temperos previamente misturados, sal, tapei e deixei cozinhar em lume brando durante uns 20 minutos (não é preciso muito, uma vez que a carne é picada; o tempo é mais para deixar apurar o sabor).

Quando o molho estava já espesso, acertei os temperos (se quiser mais picante junte mais chilli) e juntei à panela o feijão previamente escorrido e lavado em água fria (convém fazer sempre isto ao feijão em lata). Acrescentei um bocadinho mais de sal, por causa do feijão, e deixei cozinhar mais uns cinco ou dez minutos.

Servi sobre arroz branco e acompanhado de nachos, que o marido adora. Ainda pensei fazer um cornbread, mas não ia ter tempo. O chilli estava muito bom e foi comido à colher, como qualquer boa comfort food deve ser.

Esta receita é suficiente para umas quatro pessoas, pelo menos. Fiz tão grande quantidade para poder levar metade aos meus pais. Eu sei que o meu pai adora chilli e fazer um miminho sabe sempre bem!

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Ou esquece? Eu acho que a minha primeira polenta – leia-se a primeira vez que fiz E comi polenta – merece ser esquecida. Não sei se foi a textura, se foi o sabor, se foi a falta de hábito. Sei que não virou o meu mundo ao contrário.

A polenta começou a entrar na minha vida, aos poucos, nos tempos em que ainda via o programa da Ana Maria Braga. Depois continuou a insinuar-se, com as receitas do Jamie Oliver. Os blogues culinários trataram do resto. Deste crescendo resultou uma vontade enorme de provar polenta. Comprei a polenta há meses, estava a tornar-se o inquilino mais incómodo do meu dispenseiro, sempre com aquele ar de “É hoje?”. Nunca era hoje.

Até esta semana. Aproveitei que só tinha o meu paladar para satisfazer e arrisquei. Pensei muito até decidir como a fazer. Passei os olhos por muitas receitas, mas sem seguir nenhuma. Dei voltas e mais voltas e achei que a melhor forma de experimentar seria com um molho de tomate e carne picada, aromatizado com alecrim. E a receita foi crescendo daí.

Mas foi um daqueles dias em que mais valia ter comido uma sopa e fruta ou ter mandado vir uma pizza. Saiu tudo errado. O molho não ficou com o sabor que eu queria – e depois de mil e uma voltas à cabeça ainda não entendo porquê -, a polenta ficou muito espessa, enfim, tudo uma bela gororoba, como dizem os amigos brasileiros. Numa tentativa de melhorar a coisa, pus tudo num prato de forno, mozzarella por cima e forno com ela…

Não estava propriamente intragável. Estava só muito seca. Muito. E tinha um sabor a milho muito forte. Claro que isso seria o esperado, mas, sinceramente, nunca tinha pensado muito nisso. Estranho, andar a fantasiar tanto tempo com alguma coisa e nunca me ter lembrado que ia saber a farinha de milho pura. Mas ainda não desisti da polenta.  Acho que da próxima vez vou fazer um molho muito mais molho e uma polenta mais mole, daquelas de comer à colher. Isto quando ganhar coragem para tentar outra vez.

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