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Archive for the ‘Louro’ Category

Há muitos, muitos anos os meus pais pegaram em nós, pequenas, e levaram-nos à EuroDisney. E ficámos no hotel dos cowboys: quartos com beliches, colchas com cactos, cordas penduradas do tecto, fardos de palha pelo caminho. Lá, no hotel dos cowboys, aprendi que há gente que come feijões ao pequeno-almoço. Feijões com bom aspecto, num molho espesso com ar de tomate, mas que não se encaixam, ainda hoje, na minha primeira refeição do dia.

Ainda assim, fomos atrás daqueles feijões ao almoço, quando andávamos a passear na Frontierland, a terra do velho oeste lá do parque. E encontrámo-los, a eles e às batatas em gomos cozinhadas com casca e ao frango e às costelinhas em molho barbeque. Que molho era aquele? Não sabíamos, mas lambuzámos boca e dedos, deliciados.

Eu e o meu pai ficámos fãs. Volta e meia lá apareciam em casa latas de feijão da Hellman’s, com ar de terem saído daquelas panelas de ferro preto que os cowboys usam nos filmes, sobre a fogueira, no meio do nada. Não sabiam tão bem como a nossa cabeça imaginava, mas à falta de alternativa, tinham de chegar. Até agora.

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Frango e feijões em molho barbecue

(ligeiramente adaptado daqui)

  • 1 lata grande de feijão branco
  • 1 cebola
  • ½ pimento vermelho e ½ pimento verde
  • 100ml de molho barbecue (compro o meu no supermercado do El Corte Ingles)
  • 1 colher sopa de vinagre de vinho tinto
  • 1 colher sopa de xarope de bordo (ou mel)
  • 2 colheres chá de mostarda
  • paprika fumada
  • piri-piri
  • 1 folha de louro
  • sal
  • 2 peitos de frango pequenos
  • azeite

Pré-aqueça o forno a 160ºC.

Numa vasilha, misture o molho barbecue, o vinagre, o xarope de bordo e a mostarda numa tigela.

Pique a cebola e os pimentos. Num tacho que possa ir ao forno, aqueça um fio de azeite e refogue-os até que a cebola esteja translúcida. Escorra e lave o feijão e acrescente-o ao tacho, juntamente com o louro. Por cima, o molho, uma pitada generosa de paprika fumada, uma mais discreta de piri-piri. Misture bem e deixe cozinhar 10 minutos. Tempere então com sal. Aninhe bem os peitos de frango entre os feijões, para que fiquem bem cobertos pelo molho. Se tiver pouco molho, pode acrescentar um bocadinho de água.

Tape a panela e leve ao forno pré-aquecido, por 40-50 minutos. Sirva com fatias de pão rústico, torradas.

 

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Há receitas que teimam em ficar mal nas fotografias e que acabam por nos vencer pelo cansaço. Há dias em que nada parece estar no ponto exacto – a luz é má e eléctrica, o enquadramento uma desgraça e nem o prato ajuda. Junte-se a isso a fome que espera pelo fim da sessão  e a falta de paciência de quem não faz disto vida e o resultado só pode ser fraco.

E depois fico ali, naquele limbo entre as más fotografias e as excelentes receitas. As menos boas esquecem-se, não fazem falta. Mas as boas, aquelas que nos agarraram pelo nariz e pelo estômago, merecem ser partilhadas. Mesmo que as fotografias, em sessões sucessivas, não lhes façam justiça.

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Beringelas à grega

(adaptado de How to roast a lamb, Michael Psilakis)

para 4 pessoas

  • 4 beringelas pequenas, cortadas ao meio
  • 250g carne de vaca picada
  • 1 cebola pequena, finamente picada
  • 2 folhas de louro
  • 2 colheres sopa de pasta de tomate
  • 80ml vinho tinto
  • 800ml água
  • 1 colher chá de tomilho seco
  • 2 colheres chá de canela
  • azeite
  • sal
  • queijo mozzarella ralado
  • um punhado de ervas frescas (hortelã, salsa e cebolinho)

Pré-aqueça o forno a 200ºC. Faça cortes diagonais na polpa das beringelas, em cruz. Pincele-as com azeite e tempere com sal e um bocadinho de canela. Embrulhe cada meia beringela em papel de alumínio e leve a assar até que estejam tenras, 30-40 minutos. Retire do forno e, com uma colher, tire a polpa da beringela, tendo cuidado para não furar a pele. Pique a polpa retirada e reserve.

Num tacho grande, em fogo médio-alto, frite ligeiramente a cebola, em azeite (2-3 minutos). Acrescente a carne e deixe corar, mexendo frequentemente. Adicione a polpa das beringelas, o louro, 1 colheres de chá de canela e a pasta de tomate. Mexa continuamente durante 1 a 2 minutos. Junte o vinho tinto ao tacho e mexa bem. Deixe evaporar todo o álcool. Acrescente então a água, o tomilho, 1 colher de chá de sal e deixe ferver. Reduza então o fogo, cubra parcialmente o tacho e deixe cozinhar até que o molho esteja quase seco, 60-65 minutos. Verifique e mexa com frequência.

Pré-aqueça o forno a 175ºC. Ponha as beringelas num recipiente e recheie-as com o molho de carne. Cubra com o queijo ralado e leve ao forno durante 15 minutos, até que a cobertura esteja dourada. Retire, regue com um fio de azeite (ou com a gordura que tenha ficado no fundo da travessa) e polvilhe com as ervas frescas picadas.

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Cá em casa este prato foi uma aposta arriscada. Sou a única fã de canela da nossa mesa e, para não abusar, reduzi um bocadinho as quantidades da receita original. Para nós ficou óptima assim – tanto que se eu não lhe dissesse que tinha canela, ele não adivinhava, apesar de ela estar, inquestionavelmente, ali e de ser muito responsável pelo sabor final deste prato.

É uma receita leve, se servida com uma salada. Ou mais substancial, se acompanhada de arroz. De uma forma ou de outra, é uma boa ideia para as beringelas que já andam por aí e que vão continuar a aparecer até Outubro.

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Comprei a slowcooker um bocadinho por impulso. Lia receitas em blogs americanos e ficava a sonhar com um mundo em que jantares deliciosos de carnes a cair do osso e legumes tenros se faziam sozinhos nas muitas horas que eu passo fora de casa. Vi-a numa promoção irresistível e trouxe-a. Como todas as coisas mil vezes fantasiadas, a realidade deixou-me um bocadinho desiludida. É verdade, cozinha maravilhosamente. Mas não tem temporizador, pelo que as minhas muitas horas de ausência se revelaram demasiadas para a panela preparar sozinha o jantar.

Mas o entusiasmo inicial volta, de vez em quando. Colecciono receitas que farei um dia e trouxe mesmo um livro, da última vez que fui aos EUA. Às vezes, sobretudo ao fim-de-semana, quando lhe posso ir deitando olho, tiro-a do armário e ponho-a a trabalhar. Da última vez fiz frango em adobo, forma de cozinhar típica das Filipinas e que é óptima para frangos do campo, com carne mais dura e muito mais saborosa que a dos pobres franguinhos de aviário.

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Frango em adobo

(receita daqui)

  • 1 colher chá de azeite
  • 1 cebola média
  • 6 dente de alho
  • 3 colheres sopa de açúcar amarelo
  • ½ colher chá de piri-piri em pó
  • 2 folhas de louro
  • ½ medida de caldo de galinha
  • 1/3 medida de molho de soja
  • ¼ medida de vinagre de cidra
  • 1 frango do campo, desmanchado, sem os peitos (peça no talho para o desmancharem e guarde os peitos para outra refeição)
Unte o interior da slowcooker com o azeite. Pique a cebola e o alho e ponha-os na panela, juntamente com o açúcar, o piri-piri e o louro. Acrescente o caldo de galinha, o molho de soja e o vinagre e misture bem.
Retire o excesso de gordura do frango (sobretudo das coxas). Ponha os pedaços de carne na panela e, com uma colher, cubra-os com o molho que está por baixo. Ligue a slowcooker no mínimo e deixe cozinhar por 8h.
Quando o frango estiver pronto, retire-o da panela. Disponha os pedaços de frango numa grade de forno, pousada sobre um tabuleiro. Pré-aqueça o forno, no grill, a 240ºC.
Coe o molho para uma panela e leve-o ao fogão, em fogo médio-alto, mexendo sempre até reduzir para metade.
Quando o forno estiver quente, asse o frango por 2-3 minutos, até estar ligeiramente tostado e crocante.
Sirva com o molho, acompanhado de arroz branco ou legumes ao vapor.
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Não experimentei a receita sem a slowcooker. Mas sugiro, para quem queira, fazer da seguinte forma: ligar o forno a 120ºC. Numa panela que possa, posteriormente, ir ao forno, alourar muito levemente a cebola e o alho no azeite. Acrescentar os líquidos e o frango e cobri-lo com o molho. Tapar a panela e levar ao forno durante 6-8h.
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O frango fica muito tenro e saboroso, com um molho diferente. Servi o meu com arroz branco e polvilhado de cebolinha picada (a rama verde das cebolas novas) e com uma salada de folhas verdes. Eu e a slowcooker fizemos as pazes por mais uns tempos e até estou a investigar a melhor forma de lhe arranjar um temporizador, para a poder usar mais vezes.

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Finalmente, o regresso. Que saudades desta cozinha. Das experiências, mesmo das menos bem sucedidas. Vamos ver se consigo voltar a alguma regularidade, que me faz tanta falta.

Infelizmente, não foi só o blog que deixei ao abandono. O 4 por 6 também sofreu com a minha falta de tempo. Mas  este projecto é composto por outras meninas, muito mais responsáveis e criativas do que eu, e manteve-se de boa saúde. Muito obrigada, Elvira, Laranjinha, Marizé, Suzana e Pipoka.

E é o 4 por 6 que me traz de volta hoje, ainda a meio da época de exames mas já a sonhar com uns dias de férias que vêm aí. Esta receita foi preparada há umas semanas, mas mal a provei soube que era óptima para o 4 por 6. Pode ser feita no momento ou no dia anterior, é nutritiva e quase vegetariana e, sobretudo, é muito saborosa.

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Chilli de 3 feijões

  • 1 lata pequena de feijão branco
  • 1 lata pequena de feijão preto
  • 1 lata pequena de feijão vermelho
  • 100g de bacon cortado em cubos pequenos
  • 2 cenouras médias
  • 1 pimento vermelho médio
  • 1 cebola grande
  • 4 dentes de alho
  • 2 tomates médios maduros
  • 150g polpa de tomate
  • 1 folha de louro
  • 1 colher café de cominhos em pó
  • 1 colher café de paprika
  • ½ colher café de piri-piri
  • 1 colher café de orégãos
  • sal
  • azeite

Num tacho grande, refogue num fio de azeite a cebola e o alho picados. Quando estiverem ligeiramente translúcidos, acrescente o bacon em cubos e deixe alourar um pouco. Junte a cenoura e o pimento, ambos em cubinhos pequenos, e deixe refogar 1 ou 2 minutos. Acrescente então os tomates cortados em cubos, a folha de louro e restantes especiarias e mexa bem. Dilua a polpa de tomate num pouco de água e acrescente também ao tacho. Mexa, junte sal e prove. Acerte o sal e as especiarias, baixe o lume, tape e deixe cozinhar 5 minutos.

Entretanto, escorra bem os feijões e lave-os em água corrente. Escorra novamente e coloque-os na panela. Acerte a quantidade de água (se quiser com mais molho, junte mais água), o sal e deixe cozinhar 10-15 minutos.

Sirva com arroz branco e salada de alface e hortelã, cortadas em tiras fininhas e temperadas com azeite e sumo de limão.

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Aqui, usei feijão em lata, que é, sem dúvida, o mais fácil de usar. Mas não é o mais económico nem o mais saudável, por isso se tiver tempo demolhe e coza feijão seco. Pode até aproveitar para cozer em excesso e congelar o restante, em porções individuais.

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Laranja com calda de cravinho

  • 4 laranjas
  • 2 cravinhos
  • 50g açúcar amarelo

Descasque as laranjas. Corte as cascas em pedaços e remova a parte branca, a mais amarga. Ferva as cascas durante 5 minutos. Num tacho pequeno, dilua o açúcar em igual quantidade de água. Junte as cascas fervidas e os cravinhos e deixe reduzir até fazer um xarope.

Entretanto, corte as laranjas em rodelas finas. Quando a calda estiver pronta, coe para retirar as cascas e o cravinho e deite por cima das laranjas. Leve ao frigorífico até à hora de servir.

Esta laranja é receita do meu pai. Costuma aparecer à nossa mesa todos os anos, no Natal – e foi por isso que me lembrei dela. É excelente comida no dia em que é feita, mas fica ainda melhor se passar uns dias na calda, no frigorífico. (lamento não ter fotografia, mas não consegui nenhuma apresentável)

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As contas:

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Dica de poupança: o congelador pode ser o nosso melhor amigo – congele sobras de vinho em sacos de cubos de gelo para usar em molhos e refogados; cabeças e espinhas de peixe (sem cozinhar) para fazer caldo, as partes dos legumes que não comemos para caldo de legumes. E para poupar tempo, pode fazer este chilli de 3 feijões a dobrar e congelar metade, para um dia em que não tenha tempo.

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Quando eu era pequena, as melhores férias do mundo passavam-se no meio da Serra da Freita, numa casinha minúscula sem água canalizada, sem televisão, sem praticamente nada. Ainda me lembro de nem sequer haver luz – nas casas e nas ruas – e dos candeeiros de petróleo que usávamos. Lembro-me do Verão em que pintámos os móveis e do Verão em que se caiou a casa – tanto esmero posto na chaminé deixou-a branquinha e o resto da casa cinzenta porque a cal não chegou. Lembro-me dos amigos que lá tinha, hoje casados e pais de filhos apesar de serem praticamente da minha idade. Lembro-me de ir aos sapos, ao milho, às amoras. Dos banhos de rio, da louça lavada na água corrente, dos peixes e do fantasma das cobras de água. Da água gelada, como ainda hoje o é. Eram férias em que me sujava, em que caía e espetava espinhos nos pés, em que corria livre do nascer ao pôr do sol.

E lembro-me também dos regressos a casa. Dos banhos quentes que sabiam tão bem, depois de uma semana de banhos gelados tomados no rio. E das comidas que se faziam em casa, no dia de regresso. Era, invariavelmente, um domingo à noite, chegávamos tarde e não havia paciência para grandes cozinhados ou muitas coisas em casa. Fazíamos pizza, às vezes, naquelas bases redondas, congeladas, tipo bolacha, com molho caseiro e chouriço vindo da Serra, do porco do ano anterior. E fazíamos arroz de atum com ovos escalfados.

Nunca pensei muito no conceito de comfort food. Mas hoje, em minha casa, sempre que estou mais cansada ou mais em baixo dou por mim com desejos, sempre, de arroz de atum com ovos escalfados. Ovos nem sempre há, mas arroz e atum nunca faltam. Quando eu era pequena, o arroz de atum era feito pelo meu pai. Há muitos anos que não como o arroz de atum dele. A minha versão é diferente, desenvolvida a partir da dele. Não é a verdadeira, mas é, actualmente, a minha comfort food por excelência. Comida de uma tigela, com uma colher, enroscada no sofá. Não há melhor para ânimos cansados ou desanimados. E é tão fácil!

Num tacho médio alouro dois dentes de alho picados, numa dose razoável de azeite. Junto-lhes uma cebola média, em meias-luas muito finas e uma folha de louro. Quando a cebola estiver dourada, junto-lhe meias-luas de cenoura, bem finas também. Duas latas de atum em azeite, parcialmente escorrido (se estiverem bem deprimidos podem juntar mais azeite deste do atum – fica mais calórico mas também fica muito mais saboroso). Meio copo de vinho branco até reduzir. Uma medida de ervilhas congeladas e polpa de tomate, só um bocadinho. Quando estiver tudo já bem envolvido, os sabores bem misturados, junto uma medida de arroz (ultimamente tenho usado o basmati – usei-o num dia em que não havia do outro e o resultado agradou-me muito), que deixo saltear brevemente na mistura. Junto duas medidas e mais um bocadinho de água, acerto o sal, tapo. Quando o arroz estiver quase pronto mas ainda havendo um pouco de água, abro um ovo por pessoa, sobre a superfície do arroz. Este timing depende da forma como gostarem do ovo – eu prefiro-o mais cozido, por isso junto-o mais cedo. Se o quiserem mais líquido, juntem-no mais tarde.

Não é o prato mais fotogénico, por mais que se tente. Mas é daqueles que mais bem me fazem à alma e que como feliz, saboreando também as memórias que me traz.

 

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