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Archive for the ‘Pão’ Category

abóbora menina

Fui ao mercado e ela estava lá num canto, a espreitar. Hesitei. Fui encher o cesto com maçãs duras e sumarentas, tangerinas ácidas e as primeiras castanhas. Olhei para ela uma e outra vez, sempre na dúvida. Pesei as compras e estava quase a pagar quando me decidi trazê-la comigo. Era grande, pesada e linda, no seu laranja cor de fogo. Apaixonei-me.

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Cheguei a casa ainda sem saber o que fazer com ela. Achei que o melhor era assá-la toda e transformá-la em puré, que podia depois congelar e usar ao longo do Outono. Cortá-la ao meio custou-me, era tão bonita. Assei as duas metades a 200ºC, por uma hora, com sementes e casca e tudo. Deixei arrefecer fora do forno e, quando já estava fria, limpei-a das sementes e com uma colher retirei toda a polpa. Triturei e vi-me com mais de 1 litro de puré de abóbora, pronto a usar. Tanto puré! E agora, que fazer?

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Pão de abóbora, mel e aveia

(ligeiramente adaptado do Artisan Bread)

  • 125ml puré de abóbora
  • 240ml água morna
  • 3/4 colher sopa de fermento biológico
  • ½ colher sopa de sal
  • 35g manteiga sem sal, derretida
  • 2 colheres sopa de mel
  • ¼ medida de flocos de aveia
  • 3/4 medida farinha de centeio
  • 2 medidas farinha de trigo
  • sementes de linhaça, alfafa e sésamo, para polvilhar

Misture o fermento e o sal com a água, a manteiga derretida e o mel num recipiente grande. Acrescente o puré de abóbora, a aveia e as farinhas e misture com uma colher de pau, sem amassar. Cubra o recipiente com película aderente e deixe levedar à temperatura ambiente durante 2h.

Pode usar a massa imediatamente ou deixá-la repousar durante a noite, no frigorífico (fica mais fácil de moldar).

Quando pretender assar o pão, unte muito levemente uma forma com óleo. Polvilhe a superfície da massa com farinha e divida-a em 6 porções. Molde cada uma delas numa bola, esticando a superfície e dobrando as pontas para baixo. Disponha as bolas de massa na forma e deixe levedar novamente – 20 minutos se usar no dia em que fez a massa, 2h se a tiver deixado repousar no frigorífico. Alternativamente, pode fazer o pão numa forma de bolo inglês.

20 minutos antes da massa ficar pronta, pré-aqueça o forno a 175ºC. Ponha um tabuleiro numa prateleira abaixo daquela em que vai assar o pão.

Polvilhe a massa com as sementes e coloque a forma no forno. Rapidamente, deite no tabuleiro 250ml de água quente e feche rapidamente a porta do forno, para criar uma atmosfera de vapor. Deixe assar o pão durante 40 minutos, aproximadamente. Retire da forma e deixe arrefecer completamente sobre uma grade, antes de servir.

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Este pão não é doce, apesar da abóbora e do mel. É muito macio e saboroso e fica muito bem com algo salgado, como manteiga, ou com compota. É uma excelente forma de incorporar legumes pouco apreciados na alimentação – nós, que não somos grandes fãs de abóbora, gostámos bastante.
Ainda há muito puré de abóbora guardado e eu sem saber o que fazer com ele. Sugestões?

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Às vezes um almoço é assim, uma coisa rápida e simples, quase um improviso. Um intervalo fugido, feito de tempo roubado àquilo que nos enche a vida.

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No copo da varinha mágica, 1 imenso tomate  coração de boi a estourar de maduro, meia cebola e um dente de alho pequenino. Meio pimento verde, dos do senhor Pereira, a cheirar a verão e a sardinhadas. Meio pepino, que o outro meio vai por cima, em cubos crocantes. Um fio de azeite, uma pitada de sal, 4 ou 5 folhas de manjericão. Tudo bem passado, vai ao frigorífico, a gelar.

Na frigideira, dois dentes de alho picados, um fio de azeite. Um pão de ontem cortado em cubos e tudo ao lume, até que se façam croutons.

E depois sentar, de preferência à varanda. E comer devagar.

São os almoços que sabem melhor. Aqueles em que na pausa nos lembramos de respirar, de deixar o ar entrar e sair, devagar. Para depois recomeçar.

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pão mesmo que chova

Já não chove, como nas fotografias. Parece que a Primavera chegou e sente-se que veio com vontade. Por cá, já havia saudades do sol na pele, do cheiro que o mundo tem quando está calor. Mas pão faz-se sempre, chova ou faça sol. E come-se ainda mais sempre, só ou acompanhado – uma fatia barrada com manteiga, outra roubada de passagem e comida assim, somente. Pão mesmo que chova e que troveje.

Não é novidade para quem lê o Caos que eu gosto muito de fazer pão. É um prazer, é uma terapia. E é uma delícia, sempre. Mas é também uma forma de marcar posição e de bater o pé. De mostrar, a mim e a quem me quer ler, que pão é farinha, água, sal e fermento. E outras coisas, se quisermos, mas que não são precisas. Num país como o nosso, com tanto e tão bom pão, com tanta tradição e tantas receitas maravilhosas, é chocante e deixa-me francamente furiosa que muito do pão que se vende seja, na verdade, tão pouco pão. Que tenha tantos químicos, conservantes, melhorantes, espessantes. Experimentem visitar a padaria de qualquer super ou hipermercado e ler os rótulos. Mesmo o pão quente, acabado de sair, daquele que é feito quase a todas as horas, tem aditivos. E não vamos entrar, sequer, pelo reino dos pães de forma, de hamburger e de cachorro que duram semanas na despensa – isso não é pão.

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Este pão é uma variação sobre a receita já muito falada, aqui no blog e em toda a internet, do no-knead bread, do Jim Lahey. Foi feita com um queijo que descobri quando estivemos em Amsterdam e que nos serviam ao pequeno-almoço. É um gouda com cominhos, as sementes inteiras a salpicar o queijo, e liga maravilhosamente com carnes fumadas. Eu, que não gosto de queijo, consegui convencer o meu marido (que ainda gosta menos do que eu) a regressar com um pedaço na mala.Recentemente redescobri-o no Continente e no supermercado do El Corte Ingles e de vez em quando compro.

Achei que a massa deste pão, que é tão porosa, ia combinar lindamente com cubos do queijo com cominhos e com pedaços de nozes. Adaptei a receita de pão com queijo do livro, juntei-lhe nozes e torci os dedos, à espera.

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No-knead bread com nozes e gouda com cominhos

(adaptado a partir de My Bread)

  • 400g farinha para pão
  • 200g queijo com cominhos, em cubos pequenos
  • 50g nozes em pedaços
  • 1 colher chá sal
  • 3/4 colher chá de fermento biológico
  • 300g água fria

Numa tigela média, misture a farinha, o queijo, as nozes, o sal e o fermento. Adicione a água e misture bem, usando uma colher de pau, até obter uma massa húmida e pegajosa. Cubra a tigela e deixe levedar 12-18h (quanto mais tempo deixar, mais arejada será a massa).

Quando a primeira fase tiver terminado, enfarinhe uma superfície e transfira para lá a massa, sem rasgar. Com os dedos enfarinhados, molde muito levemente uma bola, dobrando as pontas para baixo. Polvilhe com muito pouca farinha, cubra com um pano e deixe repousar 2h (até dobrar de tamanho).

1h30 depois, pré-aqueça o forno a 220ºC e coloque lá dentro uma panela de ferro ou de barro, com tampa.

No fim das 2h, transfira cuidadosamente o pão para dentro da panela. Faça-lhe dois golpes no topo, para que possa expandir-se. Cubra a panela com a tampa, reduza a temperatura do forno para 200ºC e deixe cozinhar 30 minutos.

Ao fim de meia hora, retire a tampa da panela e deixe cozinhar mais 15-30 minutos, até que o pão esteja dourado (o tempo vai depender da sua preferência por pão mais ou menos tostado).

Retire do forno com muito cuidado e deixe arrefecer sobre uma grade por, pelo menos, 1h. Se o cortar antes, o miolo do pão estará húmido e pegajoso, porque o pão acaba de cozer fora do forno, enquanto arrefece.

Quando arrefecer, é só cortar e comer. Se sobrar, guarde-o bem fechado, numa caixa ou num saco, para que não seque.

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Este pão é significativamente mais forte do que a sua versão simples. O queijo derrete e penetra na massa, espalhando o sabor dos cominhos por todo o pão. Os pedaços à superfície torram ligeiramente e reforçam o sabor das nozes, que são boas e pequenas surpresas no meio das fatias.

Fazer pão é juntar coisas simples, sem segredo, e ver magia acontecer. Sem precisar dos pós modernos, que mantêm fresco o que já devia ter secado ou apodrecido há muito. É guardar o pão bem fechado, comê-lo enquanto fresco e fazer torradas quando seca. É aproveitar cada bocadinho e usar as sobras como pão ralado ou croutons. E não esperar que dure para sempre.

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o pão, as memórias, as viagens

Fazer pão é regressar a umas origens que não conheci. Não tive avós com fornos de lenha, que coziam pão e broa uma vez por semana. Não tive aldeias onde passava férias e onde se amassavam quilos de farinha que ficavam a levedar em grandes masseiras. Havia uma masseira lá em casa, mas com função decorativa e  onde se guardava a roupa para passar a ferro. A ti Micas, em Ponte de Telhe, dizia-se, assava pão e broa. Mas quando eu cheguei a esse mundo já ela era muito velhinha e o forno já só se alimentava de cinzas.

Fazer pão é fazer parte de uma história que não foi a minha. É perpetuar o maior milagre da cozinha, aquele que transforma ingredientes simples, como farinha, água e sal em algo que nos enche a casa de cheiros e a alma de memórias.

E fazer pão pode ser, também, viajar. Fechar os olhos e trincar pode transportar-nos para longe. Neste caso, mais uma vez para a nossa cidade, onde nunca comemos pretzels juntos, mas onde os há em cada esquina.

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Soft pretzels

(receita daqui)

  • 350ml água morna
  • 1 colher sopa de açúcar
  • 2 colheres chá de sal fino
  • 1 pacote de fermento biológico (10g)
  • 625g farinha
  • 57g manteiga sem sal, derretida
  • 5 colheres sopa de bicarbonato de sódio
  • sal grosso

Misture a água, o açúcar e o sal fino numa vasilha (ou no recipiente da batedeira) e polvilhe o fermento por cima. Deixe repousar 5 minutos ou até que a mistura comece a fermentar (a fazer bolhinhas à superfície). Acrescente então a farinha e a manteiga e amasse (à mão ou com a batedeira), até estar bem misturado. Amasse mais 4-5 minutos na batedeira ou 10 minutos à mão.

Retire a massa da vasilha, limpe o recipiente e unte-o muito levemente com óleo vegetal (não use azeite). Coloque novamente a massa no recipiente, cubra com película aderente (ou com um pano húmido) e deixe repousar num lugar ameno durante aproximadamente 1h (ou até que a massa tenha duplicado de volume).

Pré-aqueça o forno a 230ºC. Forre dois tabuleiros com papel vegetal e pincele muito levemente com óleo (eu costumo usar os tapetes de silicone e por isso não uso o óleo nesta fase). Reserve.

Encha uma panela grande com água (aprox. 2,5l) e acrescente o bicarbonato de sódio. Leve a panela ao fogo até ferver.

Entretanto, transfira a massa para uma superfície ligeiramente borrifada com óleo e divida-a em 8 pedaços iguais (ou mais, se quiser pretzels mais pequenos – estes são grandes). Forme com cada um uma corda de aproximadamente 60cm e dobre em forma de pretzel. Coloque os pretzels formados nos tabuleiros já preparados.

Coloque os pretzels na água a ferver (não encha demasiado a panela, eles incham), 30 segundos a 1 minuto. Retire-os da água com uma escumadeira, deixando escorrer o máximo de água possível, e devolva-os aos tabuleiros. Polvilhe generosamente com o sal grosso (se for demasiado grosso, como o sal marinho costuma ser, pode ser preferível parti-lo ligeiramente num almofariz – mas sem o reduzir a pó!) e leve ao forno até que estejam bem escuros (12-14 minutos). Transfira para uma grade e deixe arrefecer pelo menos 5 minutos antes de servir.

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Estes pretzels são um excelente acompanhamento das nossas sopas do jantar. Apesar de parecer que dão muito trabalho, com um bocadinho de prática fazem-se muito rapidamente. E são sempre um sucesso. Já conquistaram o Zé e o meu pai. E se os fizerem mesmo pequeninos, em forma de pequenos cubos (cortando as cordas em pedaços, em vez de as enrolar) e os servirem com uma tigela de mostarda picante e uma cerveja, à alemã, são um excelente acompanhamento para um jogo de futebol ou como aperitivo num encontro de amigos.

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Às vezes o meu frigorífico é um armário de restinhos: um bocadinho de um queijo, umas nozes soltas, uma mão cheia de massa de pão. E esses restinhos às vezes não chegam para mais nada e pedem uso e olham-me dos seus cantos, de cada vez que abro o frigorífico. Mas um restinho, dois restinhos, três restinhos juntam-se e fazem um restão, grande e saboroso, que chega para uma refeição. Para um almoço rápido, um lanche elaborado, um jantar leve. Para deixar feliz a barriga e feliz a consciência, por não ter deitado nada fora.

E foi assim que, no outro dia, abri a porta do frigorífico e me deparei com um pedaço da massa de pizza da Hannah, que é aquela que tenho feito ultimamente. Era um pedaço pequeno, que não chegava para uma pizza. (Ou chegava para uma pequenina, mas apeteceu-me variar). Ao lado, umas folhas de rúcula, sozinhas e que, essas sim, não chegavam para uma salada. Umas azeitonas pretas, umas nozes, um naco de queijo, um cheddar suave. Agarrei neles todos e deitei mãos à obra.

pão recheado II

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Pão recheado

Massa de pizza

  • 3 ¾ medidas de farinha
  • 1 colher chá de fermento biológico seco
  • 1 colher chá de sal fino
  • 2 colheres sopa de azeite
  • 1 ½ medidas de água morna (quase fria)

Um bocadinho desta massa, do tamanho de uma laranja. Abri-a bem fininha, numa superfície enfarinhada, numa forma mais ou menos oval. Por cima, o queijo ralado grosso, as azeitonas e as nozes picadas, a rúcula, um fio de azeite, uma pitada de sal e umas folhas de manjericão, rasgadas à mão. Enrolei sem apertar e deixei levedar meia hora, para que a massa ficasse com mais ar.

pão recheado

Pincelei com azeite, dei-lhe umas tesouradas e assei depois em forno pré-aquecido a 200ºC, sobre um tabuleiro de forno também pré-aquecido, até estar inchado e dourado.

Retirei e deixei aquecer sobre uma grade. Depois fatiei e comi. E comi. E comi mais um bocadinho.

pão recheado III

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Estava bom. Muito bom. Aqueles ingredientes desgarrados, com ar de coitadinhos dentro do meu frigorífico mostraram toda a sua gratidão dentro do punhado de massa de pão. E agora agradeço-lhes eu, pela refeição.

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(a primeira semana)

Cá por casa vão-se acertando corpos e horários ao novo ritmo. Chego a casa tão cansada que não há energias para cozinhar e os olhos pedem sono logo às seis da tarde. Falha-se o 4 por 6 por não conseguir gerir o tempo e a (des)organização (desculpem-me).

Um dia faz-se pão, que se janta quentinho, com boa manteiga, e fruta. Não houve ainda tempo para regressar ao panelão de sopa. No dia seguinte grelham-se uma beringela e uma courgette, em fatias grossas, temperam-se com azeite, sal e orégãos e comem-se com o pão que sobrou, aquecido no forno em fatias grossas, e uma salada dos últimos tomates. Noutro dia não há sequer energia para pensar em cozinhar e o take-away perto de casa salva-nos de um jantar de iogurtes e cereais.

Entretanto, assam-se as primeiras castanhas, que comemos enterrados no sofá, o corpo cansado e a alma em casa.

Deito-me cedo, muito mais cedo do que me lembrava. Acordo muito mais cedo também. E curiosamente o mau humor matinal tem andado escondido. Até quando, pergunto-me com algum receio.

A cabeça faz planos de editar fotografias, escrever e agendar posts. Talvez agora, que o fim-de-semana grande chega no momento perfeito.

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No-knead bread – a versão rápida

Ingredientes:

  • 3 medidas de farinha
  • 2 ½ colher chá de fermento biológico (seco)
  • 1 ½ colher chá sal
  • 1 ½ medida água (ligeiramente morna)

Misturam-se todos os ingredientes secos, numa vasilha grande. Acrescenta-se a água e com uma colher de pau ou uma espátula misturam-se os secos com a água, até obter uma massa relativamente homogénea. Deixa-se repousar, coberto com um pano húmido, durante 4 horas. Vai-se até aos livros e apontamentos, tentar perceber que raio é que o prof. de Matemática andou para lá a dizer.

Findas as 4 horas, liga-se o forno a 200ºC e põe-se uma panela de ferro a aquecer lá dentro. Tira-se a massa do pão do recipiente para uma superfície enfarinhada. Dobra-se três vezes, em envelope, e deixa-se repousar mais meia hora, enquanto a panela aquece.

Põe-se a massa dentro da panela, com o lado das dobras virado para baixo. Tapa-se a panela e deixa-se no forno até estar cozido (uns 30 minutos, se for em panela de ferro). Destapa-se então a panela e deixa-se o pão ganhar cor (uns 10-15 minutos, dependendo de gostar do pão mais ou menos tostado).

Retira-se da panela para uma grade e deixa-se arrefecer. Ouvem-se os estalidos da crosta em contacto com o ar frio e sonha-se com a fatia que vamos comer com manteiga, já já.

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(na falta de uma panela de ferro, uma de vidro ou de barro, desde que com tampa, serve; a de ferro permite formar uma crosta mais crocante, que nós por cá preferimos)

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outra focaccia

A receita é a mesma daqui e acho que não preciso, nunca mais, de outra receita. Apesar do trabalho, dos muitos períodos de espera, esta focaccia vale a pena. A espera. O trabalho. O ter de planear com cerca de quatro horas de antecedência.

O método continua a ser o da batota, que a máquina do pão é tão competente no amassar que acho injusto privá-la disso. Além de que não suja bancadas, não enche tudo de farinha, não cola massa de pão entre a aliança e o dedo. É eficiente e limpinha!

Focaccia com alho II

O segredo desta focaccia em especial – e foi por isso que resolvi falar nela outra vez – é a cobertura. Queria-a mais simples, sem os tomates cereja, cebola e bacon da outra vez. Era para acompanhar uma sopa, um caldo verde daqueles bons. Queria basicamente pão com um ligeiro sabor.

Por isso, com a ajuda do microplane (uma daquelas ferramentas de cozinha nada inúteis – o meu é de ralo médio e uso-o para tudo, dos queijos e chocolates ao alho, gengibre e casca de limão), ralei um dente de alho e cobri-o de azeite. Deixei o azeite ganhar o sabor do alho durante os três tempos de crescimento da massa, já fora da máquina de pão. Antes do último descanso, cobri a massa com umas colheres deste azeite (sem o alho, para que não queime ao assar), folhas de alecrim e flor de sal. Meia hora depois foi ao forno. Ao sair, mais azeite, agora sim com o alho ralado, enquanto a focaccia ainda está quente. O azeite e o alho vão impregnar a focaccia, que vai absorver um e ganhar o sabor do outro. Depois é só partir e comer.

Focaccia com alho

Para esta, prefiro deixá-la mais fininha e assá-la um pouco mais. Fica ligeiramente mais crocante do que fofa, deliciosa e perfumada. E apesar de italiana, combinou lindamente com o nosso caldo verde.

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Dezembro é o mês da falta de tempo. Por mais que se estique, puxe e corra nunca dá para tudo. Cá em casa desdobramo-nos em compras feitas ainda em Novembro, noites fugidas para algumas últimas prendas que faltam e a sempre eterna fuga aos shoppings em Dezembro. Cinema? Nem pensar! Fnac? No mês que vem! E as coisas vão sendo feitas, decoradas, compradas e os almoços e jantares comidos.

O almoço, para ajudar, tem sido de pressa e preguiça. Normalmente tento fazer jantar a mais para ter almoço para mim no dia seguinte. Mas às vezes o marido gosta tanto do jantar que não sobra – nunca pensei que cozinhar bem pudesse ter desvantagens além dos óbvios quilos a mais. E às vezes não é comida de sobrar ou não jantámos em casa ou não jantámos ponto. E eu cada vez gosto menos de cozinhar só para mim.

Mas as tentativas de desenrascar qualquer coisa rápida são normalmente muito mais saudáveis e saborosas do que as refeições congeladas de antigamente. E cá em casa havendo bom pão (que há sempre) é fácil resolver o problema!

sanduiche

Num fio de azeite estrelei um ovo dos dois lados (não gosto da gema muito crua quando é para comer no pão). Escorri bem e sequei em papel de cozinha. No microondas (o electrodoméstico mais inútil desta casa), o truque que aprendi com a Ana Maria Braga nos tempos em que havia GNT e a televisão brasileira era gratuita, cá em Portugal: duas folhas de papel de cozinha e, no meio delas, duas fatias bem fininhas de bacon. Vai ao microondas uns dois minutos e o bacon está sequinho, praticamente sem gordura, e crocante! Muito melhor que frito e muito mais saudável.

Na torradeira adianto o pão, alentejano, que pincelo com o azeite dos tomates secos. Dentro, rúcula, tomate seco do meu, o ovo, o bacon e pedacinhos de mozzarella. Orégãos por cima, a outra metade do pão e prensa nele.

sanduiche-ii

Uns minutos para a fotografia (que isto de ter blog de culinária não se compadece com as pressas) e a sanduíche foi devorada num instantinho. Mesmo a tempo de sair a correr que, como diria o Coelho Branco da Alice no País das Maravilhas, é tarde!

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Que é como quem diz, vêm umas atrás das outras. Há uns dias, andava eu a passear no supermercado, a tentar planear um jantar de família, quando vi uns lindos cogumelos Portobello, a piscar-me o olho da prateleira. Lembrei-me logo deste post da querida e talentosa Marizé e trouxe-os comigo para casa.

Inspirei-me nos da Marizé, que se inspirou nos da Elvira, e improvisei o quanto baste. De inspiração em inspiração, ficou pronto o jantar.

portobellos-recheados

Numa frigideira e um fio de azeite salteei dois dentes de alho muito muito picadinhos. Acrescentei bacon cortado em cubos pequeninos, os pés dos Portobello e mais 4 cogumelos brancos, picados. Juntei pão esfarelado (não é pão ralado, são ), temperei com sal e manjericão seco e deixei refogar um pouco. Acrescentei nozes em pedacinhos e recheei os cogumelos. Por cima, cubos de mozzarella e mais um fio de azeite. Foram ao forno a 180ºC até estarem cozinhados e dourados.

Para acompanhar, salada de rúcula temperada com azeite e vinagre balsâmico e umas batatas de forno de que vos falo amanhã.

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A receita agradou mais a uns que a outros. Cá em casa não somos loucamente fãs de cogumelos e os Portobello têm um sabor mais forte e mais evidente do que aquele ao qual estamos habituados. O molho das batatas que acompanharam o prato ajudou bastante, porque os cogumelos ficaram um pouco secos. A repetir, talvez com outro recheio, mas a aproveitar a grande vantagem de serem uma fonte de proteínas tremendamente completa e substituirem, facilmente, a carne.

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Um dos meus grandes prazeres é fazer pão. Ou coisas com massa de pão. Como já expliquei, faço-o sempre com batota, porque não tenho paciência para sovar a massa e acabar com as mãos enfiadas num monte pegajoso não é o meu ideal de relaxamento. Ainda hei-de encontrar o lado zen da coisa, mas por enquanto vou fazendo batota.

Uma das coisas que veio comigo de New York foi um dos livros de Richard Bertinet sobre pão. São dois (acho) e são muito, muito bonitos. Para além disso, têm um dvd com instruções do método de Bertinet para sovar a massa. Conheci-os através da Ana Elisa do maravilhoso blog La Cucinetta e já os tinha andado a namorar na Amazon. Numa das muitas visitas a livrarias, nos EUA, namorei-os mais um bocadinho. Acabei por trazer apenas o Dough, com a promessa de, mais tarde, encomendar o Crust. A escolha não foi fácil, mas achei que o Dough me seria mais útil.

Tenho de confessar que ainda não vi o dvd. E que ainda só fiz uma receita do livro – maravilhosa, por sinal. Olhei para a receita e pensei: olha, vou experimentar enfiar-te na máquina de pão. Se não der certo pelo menos já sei e da próxima sento-me a ver o dvd e aprendo a fazer-te à séria. Azar o do dvd: a coisa deu certo. Tão certo que já a repeti. E que bom é poder fazer esta receita sem ter de enfiar as mãos na tal coisa pegajosa que ainda não tem graça mas que espero um dia me mostre a luz e faça de mim uma convicta e verdadeira fazedora de pães, em vez de batoteira sem (muita) vergonha.

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Focaccia

Massa de azeite
(suficiente para 2 focaccias)

  • 510g farinha
  • 2 colheres sopa de sêmola de trigo (eu usei de milho)
  • 1 ½ colheres chá de fermento biológico seco (ou 14g do fresco)
  • 2 colheres chá sal fino
  • 5 colheres sopa de azeite de boa qualidade
  • 330g água

Recheio

  • 1 cebola levemente salteada em azeite
  • 1 pedaço de bacon
  • tomates cereja
  • folhas de manjericão
  • azeite

Ora como já disse, eu enfiei tudo na máquina de pão e deixei-a amassar e levedar. O método Bertinet ainda me ultrapassa um pouco, apesar de já o ter lido várias vezes. Quando vir o dvd ficarei mais elucidada, espero. E nessa altura voltaremos a ele. Para já, máquinas de pão ou batedeiras com gancho são o ideal. É enfiar tudo lá dentro e bater, bater, bater. Depois deixar descansar.

Feita e levedada por cerca de 1h, virar a massa num tabuleiro de forno untado com azeite. Mais azeite por cima dela e com as pontas dos dedos, sem esgaçar a massa, ir estendendo do centro para as pontas, até estar do tamanho pretendido. Cobrir com um pano limpo e deixar repousar durante 45 minutos.

Novamente com as pontas dos dedos, esticar a massa, quase como se lhe fizesse uma leve massagem. Tapar novamente e deixar repousar 30 minutos.

Agora o recheio: o bacon em cubinhos, os tomates cereja, levemente empurrados para que encaixem bem, as folhas de manjericão (a cebola fica para mais tarde). Deixar repousar mais 45 minutos.

Assar em forno pré-aquecido a 220ºC durante 20-30 minutos (até estar ligeiramente dourada). A meio do tempo, acrescentar a cebola. Da primeira vez acrescentei-a logo no início e, como podem ver pela fotografia, a cebola esturricou completamente.

Retirar do forno e deixar arrefecer sobre uma grade. Pincelar com um pouco mais de azeite enquanto ainda está quente. Comer rapidamente.

Esta focaccia é indescritível. Já comi várias, já fiz várias receitas em casa. Mas nenhuma como esta. A massa é leve, macia e desfaz-se na boca. Não fica pesada, não enche. Come-se sem se dar por ela. Por fora, uma quase casquinha, como se a película de azeite tivesse feito fritar levemente a superfície da massa. Os vários tempos de descanso são essenciais a esta leveza. Da segunda vez que a fiz não tive tempo para o último descanso e a massa ficou notoriamente mais pesada.

A focaccia não se conserva bem. É para fazer e comer no dia, partilhar, dividir. Rechear com tomate e bacon ou simplesmente com alecrim e sal grosso. Rechear a gosto e comer com prazer. E lamber os dedos no fim!

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