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Archive for the ‘Sopa’ Category

Desde que comecei a preocupar-me com a origem dos produtos que consumimos, os nossos hábitos alimentares mudaram. Não foram mudanças radicais, foram pequenos ajustes que nos levaram a viver como a natureza quer, a favor da sazonalidade e não da perene disponibilidade que conseguimos por vivermos numa aldeia global. Hoje temos tudo todo o ano – espargos que vêm do Peru, mangas e papaias do Brasil, romãs de Israel e um sem fim de grandes disparates que fazem com que cada peça de fruta ou legume valha um mês de viagens de carro no petróleo que gastou para chegar até nós. Não somos fundamentalistas – de vez em quando também compramos uma papaia ou um ananás, que nos chegam de longe, porque gostamos deles e não são tanto uma questão de não estarem na época cá, mas mais de não os termos (o ananás da Madeira é maravilhoso se for imensamente doce, coisa rara cá no continente; o outro corta-nos a língua).

Hoje, sempre que vou às compras, pergunto de onde são as coisas que quero comprar e se são de estufa. Se forem estrangeiros ou de estufa, procuro alternativas. Por causa disto passámos a comer alimentos mais saborosos e mais saudáveis, mais baratos e melhores para o ambiente e que estimulam a economia nacional. Mas isso significa que não comemos tomates no inverno ou pêssegos na primavera, uns porque não há, outros porque são de estufa, ambos porque não têm sabor. Quem prova um tomate coração de boi, apanhado há horas e comido quase a rebentar de maduro não pode ficar feliz com aquelas bolas de plástico sem sabor que se vendem durante o resto do ano.

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Sopa de tomate assado

(2 pessoas)

  • 3 tomates coração de boi, médios e maduros
  • 5 dentes de alho
  • 1 molho pequeno de coentros
  • ½ colher chá de molho picante (eu usei sriracha)
  • ½ pepino em cubos pequenos, para servir
  • azeite
  • sal
  • água

Pré-aqueça o forno a 180ºC.

Corte os tomates em fatias grossas e disponha-as num tabuleiro de forno. Descasque os alhos e coloque-os entre as fatias. Tempere levemente com sal grosso e regue com um fio de azeite. Leve a assar durante 20-25 minutos, até que o tomate esteja assado e com umas pontas levemente tostadas.

Retire o tomate, alho e todos os sumos do tabuleiro para o copo de um liquidificador (ou varinha mágica). Triture bem. Ajuste o sal, acrescente os coentros, o molho picante e água quente suficiente para fazer um creme não muito grosso. Triture novamente.

Sirva com cubos de pepino.

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Esta sopa tem um leve sabor fumado, das pontinhas de tomate queimadas. O molho picante é fundamental para compor os sabores. Pessoalmente, preferi a sopa sem o pepino, que pode também ser substituído por croutons feitos em azeite e alho.

Por cá andamos na época da despedida. Dos tomates, dos figos, dos pêssegos. Das coisas boas que a terra só nos volta a dar para o ano. Porque a sazonalidade não é só boa para a terra, é também boa para nós. Já viram que as laranjas, cheias de vitamina C, têm a sua época no Inverno? Importa lembrar, sempre, que nós também somos natureza e que os nossos ritmos são os ritmos da Terra, se não deixarmos que a civilização os perverta.

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E que melhor forma de regressar do que com o 4 por 6? Estou atrasada na rentrée, já devia ter postado há duas semanas. Mas nessa altura estava eu a banhos de sono e descanso por terras alentejanas, sem cozinha. Mas mais vale tarde que nunca e eu sei que a Pipoka, a Laranjinha, a Marizé e a Suzana deram as boas vindas a Setembro com receitas maravilhosas.

Eu por cá ainda estou um bocadinho em modo de férias. E a sentir estes dias de fim de Verão com mais prazer do que os de Agosto. Por isso resolvi trazer para a mesa esta vontade de prolongar o calor.

4por6

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Em Junho, num almoço em NY, fomos ao restaurante The Modern, no Museum of Modern Art. E lá comi um gazpacho que me deixou feliz, feliz. E com vontade de repetir. NY fica longe, mas por cá também se pode fazer gazpacho. Especialmente nesta altura, quando os tomates estão a explodir de maduros, sobretudo os coração de boi, doces e saborosos. Esta receita não é a do The Modern – é uma adaptação. Mas se feita com os ingredientes certos, igualmente saborosa.

Gazpacho a la Modern

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Gazpacho com azeite de manjericão e amêndoas

Ingredientes

  • 500g  tomates bem maduros
  • 250g pepino
  • 300g pimento vermelho
  • 1 cebola média
  • 4 dentes de alho
  • 40g amêndoas com pele
  • 10g manjericão fresco
  • 50ml azeite
  • sal
  • água gelada (se necessário)

Comece por preparar o azeite de manjericão – idealmente, no dia anterior. Pique o manjericão finamente, com uma faca, e coloque-o num frasco. Cubra com o azeite, tape e deixe repousar umas horas. Quanto mais horas, mais pronunciado será o sabor do manjericão.

Num tabuleiro de forno, disponha as amêndoas, com pele. Leve ao forno a 150º C, até que estejam torradas. Deixe arrefecer e reserve.

No liquidificador ou no copo da varinha mágica coloque os tomates cortados em pedaços, o pimento, metade do pepino, a cebola e o alho. Junte duas colheres de sopa do azeite de manjericão e uma pitada de sal. Triture tudo, até obter uma papa – se necessário, acrescente água gelada para obter a consistência de uma sopa. Prove, acerte o sal e guarde no frigorífico por 2 horas.

Corte a outra metade do pepino em cubos pequenos e leve ao frigorífico, para que fique bem gelado.

Na altura de servir, mexa bem a sopa. Sirva em pratos fundos, com os cubos de pepino, as amêndoas torradas e gotas de azeite de manjericão. Acompanhe com torradas pinceladas com azeite.

Para sobremesa, uma variação de um dos meus gelados favoritos.

.Sorvete de banana

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Frogurt de banana

Ingredientes

  • 3 bananas maduras (aprox. 450g)
  • 2 iogurtes gregos ou naturais
  • 125ml de leite gordo

No liquidificador ou copo da varinha mágica, triture todos os ingredientes. Se quiser, acrescente açúcar (como as bananas maduras são normalmente muito doces, não costumo juntar açúcar). Leve à sorveteira, de acordo com as instruções ou, caso não tenha sorveteira, ao congelador, mexendo de hora a hora para que se torne cremoso e não forme cristais de gelo.

 

As contas:

4 por 6 14 Setembro 09

 

Dica de poupança: agora que o Verão está a acabar, há, sobretudo nas feiras e mercados, agricultores cheios de vontade de vender o que lhes resta da produção da estação. E há tomates maduros, deliciosos, a preços muito convidativos. É a altura ideal para comprar grandes quantidades e fazer molho de tomate, que pode congelar para pizzas e pastas futuras, ou mesmo tomate seco para abrilhantar molhos e saladas ou para oferecer aos amigos.

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Por mais que os dias já se mostrem mais quentes, as noites continuam bem frias. E sopa apetece sempre, mesmo quando estamos demasiado confortáveis no sofá, a ler, para nos apetecer fazer o jantar.

Longe vai o tempo em que sopa cá em casa era sinónimo de atirar para dentro da panela todos os legumes que houvesse no frigorífico, mais uma leguminosa. Agora a cabeça combina sabores, procura alternativas e tenta encontrar soluções equilibradas que façam uma refeição, que sejam saborosas, que apeteçam quando não apetece mais nada.

Andava há algum tempo a querer fazer uma sopa de feijão branco – ms usá-lo como base da sopa, e não como complemento. Como por cá não comemos muita carne, é essencial ir buscar as proteínas a outro lugar e o feijão é uma excelente alternativa. Além disso tem ferro, cálcio e vitaminas do complexo B. Como não tem praticamente gorduras e é barato, pode ser usado e abusado, ao contrário da carne.

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Num fio de azeite, alourei uma cebola grande, picada, e 3 dentes de alho. Acrescentei os talos de uma cabeça de brócolo laminados no mandolim, para evitar que a sopa ficasse com muitos fios, por causa das fibras. Guardei metade dos floretes e juntei a outra metade à panela. Desfiz umas folhas secas de salva por cima e acrescentei uma lata de feijão branco. Um copo de água, uma pitada de sal e deixei cozinhar, em lume baixo, durante uma hora, uma hora e meia – quanto mais tempo mais apurados ficam os sabores.

Entretanto cozi levemente e no vapor os restantes floretes, que reservei. Passei a sopa com a varinha mágica, acertei a água (normalmente cozinho com o mínimo de água necessário e acrescento-a só na hora de passar, para ficar com a consistência que mais me agrada) e o sal. Salteei os floretes de brócolos num fio de azeite e dois dentes de alho finamente picados. Servi a sopa em malgas, desfiz uma folha de salva em cada uma e servi com os brócolos salteados, ainda crocantes.

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É uma sopa perfumada e deliciosa, com o crocante dos brócolos a contrastar com a textura macia do creme. O Zé, que torceu o nariz aos brócolos, descobriu, surpreendido, que afinal gostava. E que bem me sabem a mim, estas sopas fáceis de fazer e tão cheias de sabor!

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Comfort soup

Não é comfort food daquelas antigas, a que se regressa pelo conforto das memórias. Mas quando me apetece sopa é sempre esta que quero. É a melhor sopa que já provei e a melhor que sei fazer. E é rápida, saudável e faz uma refeição. Já vos convenci a experimentar?

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Esta é a minha comfort soup por excelência. Desta vez acrescentei-lhe um alho francês em meias-luas finas, para ter mais legumes. Tão boa! E ao que é bom volta-se sempre.

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Estamos no tempo das sopas, encorpadas, deliciosas, que aquecem as mãos que seguram na malga e o corpo no fim destes dias tão frios. Cá em casa gostamos muito de sopa e é frequente, nesta época, o jantar ser apenas uma sopa, destas sopas-refeição, seguida de castanhas assadas, a escaldar e a estalar. Mas sopa é sopa é sopa e sopa sempre igual torna os dias iguais. Por isso ando a aumentar o meu reportório de sopas, a experimentar coisas novas e sempre à procura de receitas que me prendam o olho.

Sopa de cebola não é uma sopa nova no mundo das sopas. Deve ser das mais antigas, aliás, quando as cebolas eram o que mais se aguentava Inverno adentro e não havia mais nada para lhes juntar na panela. Mas eu nunca tinha feito e poucas vezes tinha comido. Portanto, para nós era nova.

Há uns dias apanhei o fim de um programa do Jamie Oliver, naquele canal cheio de estrogénio. Fiquei a ver o programa sobre cebolas. E apesar de achar que ele não apresentou nada de novo (acho-o cada vez menos interessante), esta sopa ficou-me na cabeça. Fui buscar o livro para ver se a dita receita lá vinha – e vinha. Mas acabei por a fazer mais de cabeça do que pelo livro, com algumas mudanças e variações. Esta é a versão que aqueceu dois e ainda sobrou!

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Sopa de cebola e feijão branco

Ingredientes

  • 500g de cebolas (segundo conselho do Oliver, de diferentes tipos, se possível)
  • 2 alhos franceses
  • 4 dentes de alho
  • 1 lata pequena de feijão branco
  • 1 litro de caldo de carne ou legumes
  • azeite
  • sal
  • sálvia fresca (eu usei seca, na falta da fresca)
  • pão de ontem
  • queijo a gosto

As cebolas e os alhos franceses foram cortados em meias luas não muito finas e os alhos foram finamente laminados. Numa panela grande aqueci um bom fio de azeite e sobre ele esmigalhei 6 folhas de sálvia seca (usando fresca, deve deixar-se aquecer o azeite e fritar ligeiramente as folhas). Acrescentei os legumes, uma pitada de sal e misturei tudo muito bem. Tapei a panela, baixei o lume e deixei cozinhar cerca de 40 minutos, até estar tudo translúcido e dourado, mas antes que os legumes se comecem a desfazer. Acrescentei o feijão branco escorrido e o caldo (eu usei de legumes). Acertei o sal e deixei cozinhar mais uns 20 minutos.

Cortei umas fatias do pão mais fácil do mundo, que tinha feito no dia anterior. Servi a sopa para malgas, cobri com as fatias de pão e ralei queijo por cima (eu usei mozzarella porque era o único que havia em casa, mas acho que teria sido preferível um queijo mais forte; o Oliver recomenda um bom Cheddar envelhecido). Foi ao forno, pré-aquecido a 250ºC, derreter e dourar.

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A sopa original não levava feijão branco. Mas eu queria uma sopa mais alimentícia e como comemos muito menos leguminosas do que deveríamos, idealmente, achei que o feijão seria um bom acrescento – e em termos de sabor funcionou lindamente. A sálvia torna esta sopa extremamente aromática e o pão, torrado por cima, encharcado de sopa por baixo, a desfazer-se, torna tudo ainda mais delicioso.

A sopa, nova cá por casa, encantou com a sua novidade e, ao mesmo tempo, com a sua história, os anos e anos em que fez parte da mesa dos antepassados, numa memória que fará, certamente, parte do nosso inconsciente colectivo. O novo com sabor a recordação, que nos aqueceu a alma e nos satisfez a gula.

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A Fer Ayer está a promover um evento muito interessante – a Semana do Aproveitamento Integral dos Alimentos. A ideia é pesquisar, experimentar e publicar uma receita feita com aquelas partes que normalmente deitamos fora. Além de ser uma forma de poupança muito útil nos dias que correm, é uma forma muito importante de desenvolvimento sustentável, porque de cada coisa tiramos muito mais.

A minha participação não foi especialmente feita por causa do evento. Já andava há mais de duas semanas com um post sobre aproveitamento de alimentos na cabeça. Assim posso participar! Vou ainda tentar pesquisar mais receitas e dar mais dicas – este é um evento muito útil. Até acho que podia ser prolongado, para que mais pessoas pudessem participar!

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No dia em que trouxe para casa espinafres e beterrabas, sabia que ia ter muitas sobras. As folhas e talos das beterrabas e os talos dos espinafres não são coisas muito usadas e não sabia muito bem o que fazer com elas. As folhas das beterrabas podem ser usadas em saladas, mas como começaram a murchar relativamente depressa desisti dessa ideia. Pensei usar os talos dos espinafres para fazer caldo de legumes, mas eram tantos que me estava a fazer confusão a ideia de os cozer e deitar fora.

Decidi arriscar uma sopa. E mantê-la o mais simples possível, quase só com recurso a essas partes dos alimentos que normalmente vão para o lixo. Acrescentei mais uma coisinha ou duas e fiquei com um panelão de uma deliciosa sopa!

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Sopa de folhas e talos

Numa panela refoguei ligeiramente, em azeite, dois dentes de alho. Juntei um nabo, muitos talos de espinafre e muitos talos e folhas de beterraba. Acrescentei duas mãos cheias de lentilhas vermelhas, um copo grande de água, sal e tapei. Deixei cozinhar, em lume baixo, durante quase duas horas (os talos são fibrosos e convém que cozam bastante, para que a sopa não fique cheia de fios duros). Findo este tempo, acrescentei mais água, passei com a varinha mágica, acertei o sal e servi! Na tigela, um fio de azeite completa a sopa.

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Infelizmente não tenho fotografia. Na altura achei que era somente uma sopa e que não valia a pena. Ainda não aprendi a fotografar tudo o que mexe e a decidir depois 😉 Mas ficou muito saborosa e foi uma excelente forma de aproveitar todos estes pedaços de legumes, perfeitamente bons, que iriam para o lixo.

Eu detesto desperdício e estou sempre à procura de novas formas de aproveitar as coisas que vão sobrando por aqui. Outra dica excelente é esta da Laila, óptima para aproveitar qualquer casca de citrino. Até se pode guardar as cascas, juntar bastantes e depois fazer. E se for demasiado para consumo interno, pôr algumas num frasquinho bonito e oferecer! Foi o que eu fiz! 😉

Adorei este evento. De todos os que vi pela blogosfera, foi o que achei mais útil e importante. E por isso gostava de ver mais participações! Quais são as vossas dicas de aproveitamento integral de alimentos?

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O Inverno está a chegar ao hemisfério sul. Aqui devia ser quase Verão, mas desde ontem que o sol está escondido atrás das nuvens que chovem sobre nós hora sim hora não.

Com a chegada do frio ao hemisfério sul, os blogues brasileiros enchem-se de sopas e comidas quentinhas e reconfortantes. Eu, que não resisto nem prescindo de sopa, mesmo no Verão, aproveito estes dias mais fora de época para me render a essas delícias.

Uma delas, que tem sido estrela em várias cozinhas, é a sopa de mandioca. Confesso que nunca tinha comprado mandioca. E as minhas poucas experiências com ela tinham sido no Brasil, onde a comi frita e onde vi como nasce, e no polvilho que compro para fazer o pão de queijo. Mas lá fui eu, cheia de coragem, estrear-me na compra da raíz.

De regresso a casa, com a ajuda de uma faca bem grande, cortei as duas grandes raízes em cubinhos. Numa panela grande refoguei em azeite vários dentes de alho e um pedacinho de chouriço, para dar sabor. Juntei os cubos de mandioca e um alho francês gigante, cortado em meias luas. Um bocadinho de sal, um copo bem grande de água e lume bem baixinho durante quase duas horas.

Enquanto estávamos enrolados no sofá, numa daquelas tardes preguiçosas em frente à televisão ou com um livro na mão, o cheiro da sopa foi-se espalhando pela casa. Até que me arrastou para a cozinha, como aquelas mãos de fumo dos desenhos animados, que nos levam a flutuar até à panela. Destapei, desliguei o fogão, juntei mais água e passei muito bem com a varinha mágica. Acertei água e sal e servi.

Sinceramente, não sei bem o que esperava. Algo parecido com creme de batata, talvez. Mas é completamente diferente. A mandioca, em sopa, tem uma textura sedosa, quase viscosa sem o chegar a ser. Faz um creme muito macio e uma sopa deliciosa. Provámos, gostámos e repetimos. E que bom que é experimentar coisas novas!

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Eu gosto muito de sopa. E como sopa todo o ano, Verão, Inverno, Primavera e Outono. Não sou grande fã de sopas frias, quando como sopa é mesmo sopa, daquelas quentes que aquecem o corpo e alma. No pino do Verão, por isso, não me apetece muito. Mas vivendo ao pé do mar é raro ter noites tão quentes.

Mas o Verão este ano tardou em chegar. Parece que finalmente cá está, hoje está sol e já estive na varanda, a respirar o calor no ar. Gosto do Verão. Sobretudo à noite, quando o ar cheira ao sol do dia que já passou e ao mar aqui tão perto.

Mas há uns dias, as noites ainda estavam frias. De ir à varanda e sentir um arrepio. E é nessas noites que mais me apetece sopa. Para ajudar à inspiração, os blogues brasileiros, anunciando o Inverno que lá chega, têm-se enchido de receitas maravilhosas de sopa. O jantar seria sopa.

Abro o frigorífico para ver o que lá há. E o molho de beterrabas, da rama curiosa da última visita ao mercado, decidiu por mim. Nunca tinha feito sopa de beterraba. Mas já não ia descansar enquanto não fizesse. Corro para a net, leio muitas receitas. Apetecia-me fazer algumas que vi, com beterraba e alho assado, depois transformados em sopa. Mas eram processos demorados que teriam de ficar para uma próxima vez.

Queria uma sopa simples, nada de borcht, com natas azedas. Numa panela grande, num fio de azeite, salteei duas cebolas médias. Juntei 4 beterrabas médias, cortadas em cubos pequenos. Por cima, meia courgette. Uns minutos depois, entrou a rama e folhas das beterrabas e 400ml de caldo de legumes. Tapei e deixei-as cozinhar lentamente, em lume brando.

Quando já estava tudo bem cozinhado, acertei o sal, juntei água e passei. Acertei novamente o sal, a água e voltou ao lume. Deixei-a cremosa. Como queria que a sopa fosse uma refeição completa, juntei-lhe dois punhados de massinhas e deixei cozer. Quando já estavam quase quase, dois punhados de ervilhas tortas, quase só para escaldar de forma a manterem-se crocantes.

Quando o Zé entrou em casa, o delicioso cheiro a sopa encheu-lhe as narinas. “Hmm, cheira tão bem!”. Mas bastou abrir a panela para a dúvida saltar: “Beterrabas?…”. Eu sabia que ele não gostava muito de beterrabas. Mas o creme estava tão saboroso que ele teve de se render!

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De há uns meses para cá está no mercado, ao lado da senhora que normalmente me vende as frutas e legumes, um senhor muito simpático, com uma banca pequenina e improvisada, cheia de legumes caseiros e ervas frescas. Tenho lá parado todas as semanas e trazido para casa pequenas delícias, para além de uma pequena lição sobre esta ou aquela erva. Das mãos dele já trouxe menta, cebolinhas, beterrabas, favas, malaguetas e o alho francês mais tenro que já comi. Volto lá sempre – e ele deixa-me cheirar as ervas, aperta-as entre os dedos e conta-me como as planta. Perguntei-lhe pelo manjericão e ele disse-me que cá não se dá muito bem e por isso não tem. Mas tem tomilho e tomilho-limão, tem salva e três tipos de hortelã, tem erva doce e orégãos. E tem doçura na voz e no olhar.

Há duas semanas vim de lá com um quilo de favas, destas frescas e novas que se apanham agora. Não eram muitas, percebi eu depois de as descascar. Para a próxima serão mais. É que eu acho que as favas nascem na altura errada. Eu não como muitas, mas adoro creme de favas. Gosto mesmo, mesmo muito e acho que é a única coisa com favas que me apetece recorrentemente. Mas com o calor deste fim-de-semana que passou não apetecia nada sopa. E as favas a ameaçar murchar. Também não me apetecia nada congelá-las. O que fazer?

Ontem a tarde esteve mais fresca. Apeteceu-me um jantar daqueles que conforta o estômago – que bom, já posso usar as favas! E como são poucas, melhor ainda, não fico com um panelão de sopa no frigorífico, não vá o calor arrepender-se e decidir voltar!

As medidas são aproximadas. Como sempre que faço sopa, aliás. Acho que aquilo que vai para dentro da panela também não é muito importante, desde que não ofusque o sabor das favas, as estrelas do creme!

Numa panela com um fio de azeite, alourei duas cebolas médias grosseiramente picadas e quatro dentes de alho. Juntei-lhes duas batatas médias e dois pés de alho francês, com o máximo da parte verde possível (mas tirando a que já é demasiado dura, para que o creme não fique cheio de fios). Um quilo de favas (que depois de descascadas seriam aí uns 300g, medidos a olho), sal e um copo grande de água. Coze em fogo baixo por muito, muito tempo. Se tiver água suficiente posso até esquecer-me da panela no fogão.

Quando estava tudo muito bem cozido, juntei mais água e triturei muito bem com a varinha mágica. Passei então por uma rede e triturei novamente. Gosto de creme bem cremoso (passe o pleonasmo) e como não tinha tirado a camisa às favas não quis arriscar. Acertei o sal e pronto! Servi com cubinhos de bacon salteados numa frigideira sem nada, que acabaram por fritar na própria gordura até estarem crocantes.

O Zé olhou, olhou, provou e gostou. Não sem antes fazer mil perguntas sobre os quês e porquês! Eu fiquei feliz porque ainda sobrou creme para uma refeição! Já disse que adoro creme de favas?

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Apesar de por aqui os dias ainda estarem solarengos e quentes, os fins de tarde e as noites já começam a ser mais frescos e já começa a apetecer aquela comidinha que nos aquece a alma – mesmo que esta ainda não esteja a morrer de frio. Cá por casa, enquanto se sonha com as férias de Verão que virão em Dezembro, por não terem vindo em Agosto, recorre-se à mantinha no aconchego do sofá, em baixo ou em cima da qual se reúne a família toda, pessoas e gatos.

Foi nesse espírito que apeteceu uma sopa, daquelas compostas que fazem uma refeição inteira. Um dos meus livros novos, de que já vos falei – Three & Four Ingredient Cookbook – tem receitas de sopa deliciosas, para variar da boa e velha sopa do “tudo o que há no frigorífico”. É uma sopa toscana, forte e encorpada, que, apesar das desconfianças iniciais que por cá se geraram, agradou e vai ser repetida.

A receita, como está no livro, com as minhas alterações:

Ingredientes (4 pessoas)

  • 2 latas de 400g de tomates com ervas (usei uma lata e alguns tomates frescos maduros que tinha)
  • 250g de folhas de couve cavolo nero (não encontrei; usei couve portuguesa, daquela bem enrugada)
  • 400g feijão cannellini em lata (mais uma vez, não encontrei; usei feijão branco)
  • 60ml azeite
  • sal e pimenta (só usei sal)

Coloque os tomates numa panela larga e junte uma lata de água fria. Tempere com sal e pimenta e deixe levantar fervura. Reduza então a temperatura. Rasgue as folhas de couve grosseiramente e junte-as à panela. Cubra parcialmente a panela e deixe cozinhar durante aproximadamente 15 minutos ou até que a couve esteja tenra. Escorra e lave o feijão, junte-os à panela e aqueça-os durante uns minutos. Prove e ajuste os temperos. Sirva a sopa em malgas, com um fio de azeite por cima.

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É boa, quente e rica, com a acidez certa para uma sopa de tomate. De aquecer o estômago e a alma!

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